quinta-feira, janeiro 31, 2008

Parallelograms

Linda Perhacs


É natureza em estado puro, foi o que senti quando pela primeira vez tomei contacto com o universo bucólico de Linda Perhacs. Mas o lirismo de Perhacs não dispensa a faceta psicadélica. Sim, ela está lá.
Linda Perahacs fez parte do mundo hippie. Tem muita coisa em comum com a bela Vashti Bunyan.

Competição fiscal no maior concelho do país

A Câmara Municipal de Odemira faz parte do grupo de 16 munícipios, de um total de 308, que decidiu prescindir de parte dos 5% de IRS colectado aos seus moradores. No caso de Odemira, os seus moradores irão ter uma redução de 2,5%.
Também as taxas do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) foram revistas para baixo e as taxas de Derrama (sobre os lucros das empresas) vão ser alteradas.

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Um novo rosto na Saúde

Os nossos governantes acreditam que a comunicação tem propriedades demiúrgicas; que um novo rosto, um outro discurso, mudará o curso da realidade.

Assim, temos um novo rosto na saúde. E da nova ministra não esperemos que embargue as políticas do seu antecessor, nomeadamente o fecho das maternidades e centros de saúde que tanto descontentamento geraram por esse país fora.
Ela terá por missão tornar aceitável, aos olhos das populações privadas das suas valências de saúde, a política gizada pelo seu antecessor. Contará por certo com uma legião de especialistas ou arautos da comunicação para levar o barco a bom porto, mas não é crer que tenha mais êxito. A realidade pode ser neste caso um formidável oponente: muito poucos aceitam de bom grado que lhes levem o centro de saúde da sua terra e nada lhe dêem em troca, a não ser uma outra estrutura, sem dúvida melhor apetrechada, mas a trinta ou quarenta quilómetros de distância. Para populações envelhecidas isso é fonte de insegurança (e pouco importa saber se há ou não razão para tal). A saúde é um bem precioso, demasiado real. Muitos ainda se lembram do tempo em que não havia serviços de saúde, desconfiam daquilo que o futuro lhes reserva, enfim, dificilmente serão tocados pela bondade dos critérios de índole tecnocrática esboçados pelo governo.

Também é preciso não esquecer que a disseminação das estruturas de saúde pelo território nacional representou um progresso notável, ao fazer recuar os padrões de mortalidade. Foi um grande feito do nosso serviço nacional de saúde. E as pessoas mais velhas, talvez as que se sentem mais afectadas pelas medidas presentes, ainda se lembram de como era dantes. Não há política de comunicação que resista a isso.

terça-feira, janeiro 29, 2008

Faltam-me as palavras...




É para isto que pagamos impostos?

segunda-feira, janeiro 28, 2008

George Habash












1926-06.

Doutor Habash, gostava que falássemos um pouco de si.

O senhor era um médico e a sua missão era salvar gente, não matá-la. Era cristão e a sua religião baseava-se no amor, no perdão. Não tem saudades do seu passado?

Era…cristão, sim. Cristão Ortodoxo. Era…médico, sim. Pediatra. Gostava bastante. Pensava que fazia o mais belo trabalho do mundo…

Doutor Habash, diga a verdade: o que é que o decidiu? O que é que lhe provocou uma semelhante metamorfose?

Quero compreender, faça-me compreender?

O quê? Não um raciocínio, julgo. Não Marx, por exemplo. Já tinha lido Marx já chegara a certas conclusões científicas. Foi…foi um sentimento, sim. Veja, eu estava habituado ao espectáculo da dor física, mas não da dor moral. Tão-pouco ao da injustiça, da vergonha. Até 1984 fui um rapaz como os outros, o típico filho do bem-estar, o típico universitário que gosta de se divertir nadando na piscina ou jogando ténis ou andando com raparigas uma vez por outra. O que aconteceu em 1948 impressionou-me, mas não me modificou muito. Tinha 22 anos e habitava em Lida, perto de Jerusalém, não tinha partilhado da tragédia dos refugiados. Obtida a formatura, refugiei-me na medicina como único meio de me tornar útil à humanidade. Mas depois veio 1967, eles foram a Lida e… não sei como explicar-me…o que significa isto para nós…deixar de ter uma casa, uma nação, nada de importante…obrigaram-nos a fugir. É uma visão que me persegue e que não esquecerei mais. Nunca mais! Trinta mil pessoas que fugiam a pé, chorando…gritando de terror…As mulheres com crianças nos braços ou atadas às túnicas…Enquanto os soldados israelitas as empurravam com as espingardas. Elas caíam na estrada…muitas vezes já não se levantavam...Terrível, terrível, terrível! Vimos certas coisas e pensamos: mas isto não é vida, não é humanidade, para que serve curar um corpo doente se depois isto acontece? Temos que transformar o mundo, precisamos de fazer qualquer coisa, matar se necessário, matar correndo o risco de ser desumano e morrer por nossa vez e morrer por nossa vez…Quando vemos isto , a nossa mente e o nosso coração mudam…Sente-se que há mais qualquer coisa que a nossa vida…

George Habash entrevistado por Orian Fallaci, Amã, Março de 1972.

In Entrevista com a História.

On Dangerous Ground Teaser

Vistos

aaaa

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Ambas as coisas são boas.
Mas uma delas é mesmo muito boa.


Pronto, eu digo: a primeira.

sexta-feira, janeiro 25, 2008

Everybody Loves The Sunshine



My life, my life, my life, my life
In the sunshine...

Feel what I feel, what I feel, what I feel, what I'm feelin
In the sunshine
Do what I do what I do what I do what I'm doing
In the sunshine


Roy Ayers

Em desacordo com a nova regulação das defesas oficiosas

Um grupo de advogados de Setúbal lançou uma petição online, dirigida à Ordem dos Advogados e ao Ministério da Justiça, manifestando o seu desacordo com a Portaria 10/2008 de 3 de Janeiro quer por causa da forma de remuneração das defesas oficiosas quer por causa do impacto negativo que pode vir a ter na qualidade do apoio legal a prestar.

Duvido que os senhores doutores mais imbuídos de espírito de corpo, ou seja, os mais arreigados ao proteccionismo das guildas profissionais, esteja satisfeito com esta manifestação de vontade exercida fora da "estrutura organizativa" (claro que entre os autores, nem todos terão uma visão liberal do papel das ordens profissionais...).

Leitura complementar: "Os guardiães nas muralhas dos privilégios"

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Heath Ledger
























(1979-08)
Hoje é um dia triste.

Brokeback Mountain director Ang Lee described working with Ledger as "one of the purest joys of my life".
"He brought to the role of Ennis more than any of us could have imagined - a thirst for life, for love, and for truth, and a vulnerability that made everyone who knew him love him," he said. "His death is heartbreaking."

BBC

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Leituras sobre Carris



A saga dos Bórgia pelo punho de Puzo.
Infelizmente, parece que a hipótese surgida há um par de anos, de ver Scarlett Johansson a desempenhar o papel de Lucrécia sobre a direcção de Neil Jordan, é cada vez mais remota.
É que se está mesmo a ver que ela nasceu para aquele papel, não é?

terça-feira, janeiro 22, 2008

Cafés, bares, restaurantes, tascas, casas de pasto, tabernas, discotecas, boites, casinos

São negócios privados.
Eu repito, caso algum dos burocratas assalariados do estado, rapazes com empregos e socialistas assortidos não tenha percebido à primeira.
São negócios privados.
São negócios privados.
São negócios privados.
São negócios privados.
São negócios privados.
Não são espaços públicos de propriedade partilhada.

Ah! E quanto à iminente proibição de lareiras, fogueiras e fumeiros diversos, parece-me que se prepara um “cross-sell” para a cruzada anti-obesidade. Não faltará muito até um qualquer filho da puta levantar o dedinho e advertir do cataclismo que nos aguarda se continuarmos a deglutir chouriços, linguiças ou presuntos (per)fumados.
Com licença, mas à falta da tag correspondente: puta que os pariu!

Já colocado no Insurgente.

É uma grande injustiça que se ande por aí a falar em "Cabelinho à Paulo Bento"



Francisco George, Director-Geral da Saúde.

I Feel Like The Mother Of The World


Smog

Mudança e Experiência

É interessante ouvir os candidatos das primárias, democratas e republicanos, falarem de mudança. A Mudança anda na boca do mundo. Os eleitores americanos estão descontentes com o actual estado de coisas na terra do Tio Sam. Querem as tropas fora do Iraque, querem um sistema de saúde mais inclusivo, talvez de cobertura universal.
Os níveis de popularidade do presidente e do congresso caíram a pique e não se vê maneira de travar tal queda. Diríamos pois que a credibilidade do establishment anda pelas ruas da amargura. No entanto, o que vemos é muito diferente: os candidatos que se perfilam cada vez mais para a nomeação, McCain e Hillary Clinton, são gente de Washington DC; gente do establishment, para utilizar a expressão tão cara aos seus rivais na corrida à nomeação presidencial.
Parece que a mudança é querida dos americanos, mas desde que seja protagonizada pela voz da experiência. E de pouco vale falar das teias que o establishmente tece.
John McCain, veterano da política americana, tem a nomeação à vista se vencer na Florida (Rudy Giulinai arrisca-se a ficar para a história apenas por causa de uma desastrosa estratégia, talvez um futuro case study nos manuais da ciência polític). Hillary Clinton está a ir muito bem entre os eleitores hispânicos, o que lhe abrirá boas perspectivas nos importantes estados de Nova Iorque, Califórnia e Nova Jersey.

segunda-feira, janeiro 21, 2008

Visto


Um filme com o Philip Seymour Hoffman é sempre melhor que um filme sem o Philip Seymour Hoffman. Misturá-lo com aquela senhora e com o Sr. Gump, é prova não só que ele se aguenta como aguenta o filme.
Entre ir ver e não ir, recomendo que vão.

Ao domingo à noite não me importo de ser contribuinte

Ontem, assisti a mais um episódio da série "Conta-me como foi".
Já muito foi dito sobre a qualidade da mesma, quer na representação quer na escrita dos textos.
Desta vez, para alguém que como eu tem a Liberdade como um valor absoluto não relativizável pelos contextos que o tempo constrói, não consegui evitar emocionar-me pela aflição vivida pela família que vê o seu filho, estudante universitário, envolvido com o "reviralho", ser preso e ficar incomunicável. A aflição de quem sabe bem que qualquer tentativa de luta contra o pensamento único sofre as consequências da omnipotência do poder exercido em nome do Estado (lembram-se da "... e Defesa do Estado"?).
A série desenrola-se em '69. A influência das ideias vindas do exterior ia escapulindo pelas aberturas que o regime já não consegui vedar completamente. Claro que havia de tudo: os democratas de tradição ocidental, os militares que do convívio com os colegas da NATO tinham percebido que havia mais formas como servir o país e os que se deixavam deslumbrar pelas ideias vindas dos camaradas dos países de Leste.
Estes últimos ignoravam ou relativizavam as notícias das lutas que os povos de vários desses países desenvolviam para também eles se libertaram, cegos perante a actuação das polícias políticas e dos muitos milhões de mortes que o comunismo produziu como pena para crimes de pensamento. Portugal viria a sofrer em breve do impacto de quem quis substituir uma ditadura por outra.

Voltando à série: emocionei-me ao pensar o que seria ter um familiar preso por crime de pensamento, por tentar expressar as suas ideias. Emocionei-me perante a possibilidade de a "maioria silenciosa" ter permitido que tal acontecesse durante tanto tempo ao mesmo tempo que me lembrava que do outro lado da Europa, o mesmo acontecia.
As maiorias silenciosas são tão ou mais perigosas que as que, sobre a capa das regra democrática, se transformam em ditadoras sobre o indivíduo.

sábado, janeiro 19, 2008

Sans Soleil

A nova lei das autarquias: o cerne da questão

Com a errada fixação na contestação da perda da proporcionalidade na composição da câmara municipal -- esquecendo que ela nunca existiu na junta de freguesia --, a oposição desvalorizou a principal objecção contra o regime em vias de aprovação, que consiste na imposição de executivos maioritários monopartidários mesmo contra uma folgada maioria da oposição na assembleia.
De facto, segundo a proposta PS-PSD a rejeição da junta ou da câmara proposta pelo presidente exige uma maioria de 3/5 na assembleia, o que lhe permite "passar" mesmo que tenha 59% de votos contra. Ora, não sendo o executivo directamente eleito (salvo o presidente), de onde virá a sua legitimidade democrática (seja a junta de freguesia, seja a câmara municipal) para se impor à maioria da assembleia autárquica, essa sim directamente eleita?
Recorde-se que no caso do sistema de governo nacional, nenhum governo pode passar na AR se tiver contra ele uma maioria absoluta...
Vital Moreira, in Causa Nossa.

É uma lei à bloco central, para tornar as oposições ainda mais decorativas e reduzir a diversidade do espectro político. E sabemos como a vida política autárquica carece de oposições como de água para a boca. E de orgãos de fiscalização com poder efectivo. Ora, não é caso de uma assembleia municipal que para levar a bom porto uma moção de rejeição necessita de reunir 3/5 dos votos. Isto não é nenhum reforço da fiscalização dos executivos, a não ser que estejamos a falar de universos paralelos.
O problema das nossas autarquias não reside na instabilidade dos executivos (quantos caíram ao longo de trinta anos de vida democrática local?), mas sim na fraqueza da oposições e na quase inocuidade da assembleia municipal.

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Deste nosso capitalismo

Rezam as crónicas que os pequenos accionistas votaram esmagadoramente em Cadilhe. E que estavam em maioria na magna assembleia do maior banco privado do país. Mas como o capitalismo popular tem limites, eles nada puderam contra os grandes accionistas do BCP, que numa manifestação unitária apoiaram Santos Ferreira, o candidato patrocinado pelos círculos do governo. Santos Ferreira obteve 97,8% dos votos, números que por certo Kim Jong-Il não desdenharia.
Bem podem os senhores grandes accionista e gestores milionários passearem-se por congressos de Compromisso Portugal, apregoarem aos setes ventos o quão liberais são, que no fim tudo vai dar ao Estado. Ao Estado e ao seu generoso guarda-chuva. E a roupagem yuppie por si só não apaga o velho lastro da história. O velho lastro de nepotismo, como o exemplo do BCP demonstra à saciedade. É vê-los apregoar aos outros, aos assalariados, as virtudes da meritocracia, enquanto ganham os favores do Estado por meio de milionárias concessões monopolistas.
Há quem se escandalize pelas esmolas que o Estado concede a agentes culturais, gritando "alto lá, que é dinheiro dos contribuintes!". Mas que já nada diz quando se trata de negócios à la Lusoponte.

Leituras sobre Carris



Para quem tenha interesse em perceber que a Economia não é uma ciência distanciada da realidade material, das múltiplas interacções entre os participantes do mercado; para quem não consegue compreender as premissas neoclássicas de que competição é um estado de equlíbrio não competitivo onde a realidade nada tem a ver com a teoria e as palavras perdem o significado que qualquer um de nós, comuns mortais, lhe atribui.
Para quem percebe que os que se arriscam a prosseguir uma oportunidade que aos outros passou despercebida e com isso conseguem gerar mais riqueza, são o motor do desenvolvimento. E para quem, fugindo às barreiras dos preconceitos, sabe que entre eles estamos todos nós.
As frequentes referências à injustiça que é o não reconhecimento, pelo comité do Nobel, do trabalho de Israel Kirzner, são mais que justificadas.

Disponível no Google Books.

terça-feira, janeiro 15, 2008

Os Culpados

Uma vez mais não resisto a citar o Pacheco Pereira, eu que estou bem dentro do espectro da esquerda. Ele é um livre-pensador, e há tão poucos num país em que o respeitinho é quem mais ordena; em que o consenso amordaça.

Os culpados são uns "velhos do Restelo", sem humor, uns pessimistas frustrados, que queriam ter uma gloriosa carreira pública, mas que não ganham eleições como o engenheiro Sócrates ou o dr. Lopes e vivem roídos por isso, uns intelectuais que só escrevem livros, o que, como se sabe, não é trabalho decente, e que nunca tiveram oportunidade de fazer festas, piscinas e centros de congressos com dinheiros públicos, deixando os municípios endividados por décadas, nem de darem computadores nas escolas, extorquidos por pouco subtis pressões às empresas que precisam do Plano Tecnológico e que também têm que pagar, como os empreiteiros obrigados a dar uma loja à câmara para fazer um edifício. Esses ressentidos subversivos que só sabem dizer mal sentem o mundo a cair à sua volta e não são capazes de ver o imenso mérito dos tempos modernos, quer do engenheiro tecnológico, quer dos modernizadores que querem partidos SA com cibercafés nas sedes, quer dos pensadores-engraçadistas que imitam os Gatos Fedorentos e o Inimigo Público e pululam nos blogues e nas televisões.

Aqui, uma justa homenagem à geração de 60:

Aquilo que, na sua imensa ignorância, alguns consideram ser as ideias dos anos 60, o mal que Sarkozy e os seus imitadores querem extirpar, é uma noção individual da liberdade, um gosto pela vida autónoma, uma vontade de não depender de ninguém, uma desconfiança natural da autoridade presumida e arrogante, que sempre foi mais forte do que o invólucro radical desses mesmos anos. Por estranho que pareça, esta liberdade libertária tem continuidade na profunda convicção de que a revolução dos costumes desses anos, o que deles vai ficar, só é garantida pela riqueza, riqueza de dentro, a "cultura", esse termo tão abastardado, e riqueza de fora, posse das coisas, de bens, do tempo próprio.

Pacheco Pereira, in PÚBLICO, 12 de Janeiro.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

A Realidade...



Foi algures no Verão, não assim há muito tempo, em Helsínquia. No Kiasma.

quinta-feira, janeiro 10, 2008

A Obra foi para Alcochete

O processo começou na Ota e acabou em Alcochete, mas entre a necessidade de um aeroporto e uma obra de regime vai uma grande distância.

Nunca um projecto de investimento público, uma dessas grandes obras a que ciclicamente estamos acostumados, foi objecto de tanto escrutínio por parte da sociedade civil; de académicos, jornalistas, associações empresariais e bloggers mais ou menos anónimos. Isso talvez tenha reduzido os danos, ao ter evitado o que parecia ser o logro da Ota. O governo viu-se obrigado a recuar, perante o avolumar do questionamento que culminou no estudo da CIP; e na decisão de relegar para o Laboratório Nacional de Engenharia Civil o tira-teimas entre Alcochete e a Ota. Mas a sustentação técnica não nos deve cegar, o fundo da decisão é sempre político (saber se serve o interesse geral é outra questão). E tal como na Ota havia interesses, também os há em Alcochete.

Vamos ter obra em grande, ainda por cima com o bónus de uma nova travessia sobre o Tejo, e muito estudo encomendado à miríade de empresas que gravitam na órbita do Estado. Talvez as mesmas que com seus estudos legitimaram a Ota na última década e meia. Porque, nessa função simbólica, os estudos também ajudam a exaurir a fazenda.

Confesso o meu cepticismo sobre o efeito multiplicador do crescimento e do emprego que o novo aeroporto, imaginado como uma imensa plataforma giratória para África e as Américas, engendrará. E entristece-me o que daí poderá vir de surto imobiliário e desregramento ambiental.

P.S. Não sou habitante do Oeste…

Os negócios do Estado

No CM:
O antigo Estabelecimento Prisional de Brancanes, em Setúbal, foi vendido a uma empresa detida na quase totalidade por António Lamego, um antigo sócio do Ministro da Justiça, Alberto Costa.

Segundo revela a edição desta quinta-feira do jornal ‘Público’, a venda da antiga prisão foi efectivada em 2007 através de uma empresa de capitais exclusivamente públicos, a imobiliária Estam, que, após um concurso público, decidiu vender o espaço a Diraniproject III, liderada por António Lamego.

Segundo apurou o diário, a propriedade, que em 1998 tinha custado quatro milhões de euros ao Ministério da Justiça, foi vendida à imobiliária por 3,4 milhões de euros.(...)

Em nota enviado ao jornal ‘Público’, Alberto Costa defende que “o Estado não perdeu dinheiro”, alegando que a passagem da propriedade da Defesa para a Justiça é ”intra-Estado”. Segundo o governante, o Estado só perderia dinheiro se tivesse comprado e vendido a privados.

Penso que seria útil entender que o Min. da Justiça não pagou nada ao Min. da Defesa: dois "bolsos" do OE fizeram lançamentos contabilísticos.
Custo para o Estado: o necessário ao processamento burocrático dessa operação (e algumas taxas que se apliquem, o que desconheço).
Receita da corrente venda: 3.000.000€ - Custo Burocrático/Taxas
Ou seja, o Estado ganhou efectivamente com esta venda. Resta saber se o valor obtido podia ser maior ou se alguma irregularidade houve durante o concurso.


Espero que o Estado continue a vender as suas propriedades (pelo menos as excendentárias e que país fora vão apodrecendo); o processo pelo qual isso acontecerá, pode bem vir a ser afectado por tentativas de mover influências junto dos decisores.
Tal situação não é uma demonstração de um vício do capitalismo.
É antes a demonstração dos problemas de "uma economia mista", como lhe chamava Vitalino Canas num debate televisivo (onde participou um certo economista do PCP...).
Um exemplo de que o poder detido pelos gestores da coisa pública pode ser dirigido no sentido de agradar às suas clientelas.
A solução não é mais estado/ mais controlo; é menos poder, menos capacidade de influenciar a economia. O que se aplica também aos bancos...

Uma distinção clara

Recebida por email:



E escusam de começar com coisas: o reconhecimento da diferença entre as duas alíneas está a partir de agora na "letra da lei".

Da promessa do referendo














Mais uma promessa quebrada.
Desta vez, a culpa não é do nosso primeiro-ministro, mas sim de Brown e Sarkozy, segundo reza a imprensa.
Desta, sai absolvido José Sócrates, o homem do Tratado do nosso contentamento. O homem do Tratado de Lisboa.
Diga-se que o referendo agora abortado interessava a muitos poucos. A Europa é uma realidade que não entra no imaginário da imensa maioria dos portugueses. E a mais das vezes soa tão-só a fundos ou subsídios, ou tão-só a Erasmus.

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Forbidden Colours


Assim, a primeira música do ano no Office...

A decepção. Ou o hábito de acreditar nas sondagens...

As últimas sondagens faziam crer num novo triunfo de Barack Obama, agora nas primárias de New Hampshire. Mas foi Hillary Clinton quem prevaleceu, ainda que por uma estreita margem.

Era importante, para Barack, vencer em New Hampshire, pois disputaria as próximas eleições, nos estados do Nevada e da Carolina do Sul, em condições favoráveis, fazendo tremer a candidatura de Hilary, a favorita à nomeação do Partido Democrático. Se Barack tivesse vencido, ganharia um capital político valioso para os combates que se avizinham, porque New Hampshire tem uma ressonância muito para além do seu (diminuto) peso eleitoral.

Ainda a procissão vai no adro, mas arrisco dizer que este reequilibrar das coisas é favorável a Hilary Clinton, cujo estatuto de principal candidata do partido Democrático havia sido beliscado em Iowa. Quando não se é portador desse estatuto, é de vital importância ganhar os primeiros actos eleitorais, para que seja possível conquistá-lo, ou então retirá-lo ao nosso maior oponente.

New Hampshire revelou que Hilary Clinton é maioritária entre os eleitores democratas, mas que os independentes e os jovens continuam a ir para Barack. Ora, isto poderá indiciar dificuldades para o senador do Illinois, nos estados em que as eleições se restringirem aos eleitores democratas, sem lugar a independentes.

Barack conta, é certo, com trunfos importantes, desde logo o facto de as sondagens o indicarem como o democrata mais elegível em caso de eleições presidenciais com os candidatos republicanos que neste momento se perfilam (ao contrário do que sucede com Hillary Clinton). E estes primeiros actos eleitorais também demonstraram haver uma maioria de esquerda, ou seja, daqueles que os americanos designam por liberals, se aos votos de Obama juntarmos os obtidos por John Edwards. Talvez a chave do sucesso de Obama passe por um convergência com os apoiantes de Edwards.


terça-feira, janeiro 08, 2008

Visto



Depois de "Uma História de Violência", David Cronenberg volta a incluir Viggo Mortensen no elenco do seu filme, "Promessas Perigosas", substituindo Maria Bello por Naomi Watts (talvez uma necessidade de maior semelhança física ao perfil de descendente de emigrantes russos). Desta vez temos também Vincent Cassel e Armin Mueller-Stahl (nas personagens de filho e pai, respectivamente).

Dois grandes filmes. Imperdíveis, na realidade. A merecerem serem visto pela ordem cronológica da sua produção. Uma aposta como vêm aí mais umas nomeações para os óscares?

Os candidatos democratas e o Iraque



Barack Obama opôs-se desde o início à invasão do Iraque, fez parte daquela minoria de políticos americanos que não se deixou manietar pelo clima de fervor patriótico então vivido.
As objecções de Barack, entrevistado em 2002.

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Factor Obama


As primárias americanas arrancaram no Iowa.

É difícil extrair muitas ilações destes resultados, até porque o sistema de votação, conhecido por caucus, restringe e muito o universo de potenciais votantes. Nem toda a gente arranja tempo para se deslocar aos locais onde estão instaladas estas assembleias/reuniões e aí permanecer durante cinco ou mais horas em debates e defesa de propostas que mais tarde desembocam em votações. Pode ser rico em matéria de cidadania, mas ilustra também as insuficiências da democracia de base, directa ou participativa.

Desta vez, a participação até aumentou (muito por causa do efeito Obama), cifrando-se perto dos 350.000 votantes, o que ainda assim é manifestamente pouco para uma população de cerca três milhões habitantes. É caso para nos interrogarmos se estes cerca de 350.000 participantes são de facto representativos do universo dos eleitores do Estado do Iowa.; se é razoável extrapolar dos primeiros para os segundos.

Mas não obstante todas as cautelas a ter, a vitória de Barack Obama, pela sua extensão, não pode ser ignorada. Ele duplicou a participação dos eleitores democratas, soube captar o voto jovem e seduzir eleitores de um Estado maioritariamente branco, em que a diversidade étnica quase não se faz sentir. São boas razões para crer na candidatura de Barack Obama. E são certamente motivo de preocupação para a candidatura de. Hilary Clinton. Podemos falar num factor Obama, traço marcante destas primárias.

No campo republicano, o manto de indefinição mantém-se. Não há muito que se passa dizer deste resultado. Huckabee e a religião, questão importante para os eleitores republicanos do caucus.

A ver vamos o que nos reserva New Hampshire.

“The roundabout way to wealth”



The Choice: A Fable of Free Trade and Protectionism
O co-autor do Cafe Hayek escreveu esta obra de ficção onde conta uma noite na vida de Ed Johnson, um fabricante de aparelhos de televisão nos anos ‘60. Nessa noite, ele é visitado por Dave (aka David Ricardo) que o tenta convencer a não apoiar um candidato presidencial que advoga políticas proteccionistas que poderão mudar, de forma muito negativa, o futuro da América.
Lembram-se do filme de Capra, “Do Céu Caiu Uma Estrela”? Também Dave tenta ganhar as suas asas, apresentando a Ed os vários futuros alternativos, dependentes da eleição do candidato a quem Ed se preparava para dar o seu apoio, discursando no respectivo congresso partidário.
Se na edição mais antiga (a que conheço), o autor usava exemplos de comércio internacional relacionados com o Japão, a NAFTA e os EUA (nos anos 80), pelos vistos na edição mais recente usa a China e a Índia para ilustrar os exemplos que ajudam aos argumentos de Dave.

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Em aceleração no avanço pelo "Caminho"

No mesmo país que nos trouxe a proibição de acender um cigarro com isqueiro, sem ser debaixo de telha (e com o papelinho da licença válida), chegou-nos ontem (*) a proibição de acender cigarros debaixo de telha (com isqueiro ou com fósforo).
Temos de agradecer ao patriótico sentido de defesa do Povo que infla os membros do Governo e da Assembleia. A da República. Nacional.
Funcionários públicos zelosos da fiscalização e cumprimento deste regulamento em particular, também não faltarão, como não faltavam há umas décadas atrás.
Está tudo bem assim e não podia ser de outra maneira.



(*) - Já colocado, ontem, no Insurgente.

A última praia do ano

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Control ainda no ano passado



Annik- "... a tua cor preferida?

Ian- Azul. A cor do Manchester City..."

Vi Control ainda antes do fim do ano.
Sóbrio a filmar o desespero que só encontra saída na morte. E longe dos registos iconográficos. Ian é-nos mostrado como uma pessoa simples. Com uma vida simples, apenas quebrada pela irrupção da banda. De uma banda que acabou por fazer história, um sucesso póstumo, mas que consumiu Ian. Por vezes, não é possível aguentar. Porque não podemos evitar que as coisas escapem ao nosso controlo.

Tudo aconteceu sob a paisagem monótona de Macclesfield, o que não quer necessariamente dizer que tenhamos de assacar as culpas ao urbanismo dos bairros da working class. É mais profundo do que isso.

Depois do filme, só restava o isolamento.


P.S. A fotografia de Corbjin e Sam Riley são boas razões para ir ao encontro de Control.