quarta-feira, maio 26, 2010

A Austeridade rumo ao desastre

É o que nos diz Joseph Stiglitz em entrevista ao Le Monde:

Vous avez récemment dit que l'euro n'avait pas d'avenir sans réforme majeure. Qu'entendez-vous par là ?

L'Europe va dans la mauvaise direction. En adoptant la monnaie unique, les pays membres de la zone euro ont renoncé à deux instruments de politique économique : le taux de change et les taux d'intérêt. Il fallait donc trouver autre chose qui leur permette de s'adapter à la conjoncture si nécessaire. D'autant que Bruxelles n'a pas été assez loin en matière de régulation des marchés, jugeant que ces derniers étaient omnipotents. Mais l'Union européenne (UE) n'a rien prévu dans ce sens.

Et aujourd'hui, elle veut un plan coordonné d'austérité. Si elle continue dans cette voie-là, elle court au désastre. Nous savons, depuis la Grande Dépression des années 1930, que ce n'est pas ce qu'il faut faire.

Que devrait faire l'Europe ?

Il y a plusieurs possibilités. Elle pourrait par exemple créer un fonds de solidarité pour la stabilité, comme elle a créé un fonds de solidarité pour les nouveaux entrants. Ce fonds, qui serait alimenté dans des temps économiques plus cléments, permettrait d'aider les pays qui ont des problèmes quand ceux-ci surgissent.

L'Europe a besoin de solidarité, d'empathie. Pas d'une austérité qui va faire bondir le chômage et amener la dépression. Aux Etats-Unis, quand un Etat est en difficulté, tous les autres se sentent concernés. Nous sommes tous dans le même bateau. C'est d'abord et avant tout le manque de solidarité qui menace la viabilité du projet européen.
[...]

Pensez-vous que la viabilité de l'euro soit menacée ?

J'espère que non. Il est tout à fait possible d'éviter que la monnaie unique ne périclite. Mais si on continue comme ça, rien n'est exclu. Même si je pense que le scénario le plus probable est celui du défaut de paiement. Le taux de chômage des jeunes en Grèce s'approche de 30 %. En Espagne, il dépasse 44 %. Imaginez les émeutes s'il monte à 50 % ou 60 %. Il y a un moment où Athènes, Madrid ou Lisbonne se posera sérieusement la question de savoir s'il a intérêt à poursuivre le plan que lui ont imposé le Fonds monétaire international (FMI) et Bruxelles. Et s'il n'a pas intérêt à redevenir maître de sa politique monétaire.

Rappelez-vous ce qui s'est passé en Argentine. Le peso était attaché au dollar par un taux de change fixe. On pensait que Buenos Aires ne romprait pas le lien, que le coût en serait trop important. Les Argentins l'ont fait, ils ont dévalué, ça a été le chaos comme prévu. Mais, en fin de compte, ils en ont largement profité. Depuis six ans, l'Argentine croît à un rythme de 8,5 % par an. Et aujourd'hui, nombreux sont ceux qui pensent qu'elle a eu raison.

segunda-feira, maio 24, 2010

A pombalhada em Setúbal

No Setubalense, dá-se conta do óbvio: a cidade sofre uma praga de pombos.
Já em tempos deixei aqui a sugestão de despachar a praga a tiro. Certamente seria fácil encontrar quem se dispusesse a tão salutar actividade lúdica.
Um dos leitores do Setubalense dá conta (nos comentários) que em Beja usaram esse método. Prova do espírito prático dos alentejanos.
Outra nota na mesma página dá conta também de uma outra praga na Luisa Todi, desta vez dos janados que por ali andam a esmifrar moedas a quem pretende estacionar (em zonas de estacionamento pago).
Notas de uma cidade maltratada e desleixada pelas Juntas de Freguesia, Câmara mas também por muitos dos seus habitantes a quem faltam os mais básicos hábitos de civismo.

sexta-feira, maio 21, 2010

A Crise, a Europa e os Estados Unidos

Do lado de lá do Atlântico, a firmeza de Barack Obama. Do lado de cá, as hesitações costumeiras. Do lado de lá, a vontade e a capacidade para agir, do lado cá, a paralisia e o refúgio em feiticismos vários (o défice de 3%, a dívida pública de X%, etc., etc.)
Diferenças de liderança, o contraste entre a coragem e sentido político de Obama e a mediocridade dos líderes europeus. Mas também diferenças culturais. É inegável a maior capacidade reactiva dos americanos. A capacidade de reconhecer os erros e agir diferente em busca de soluções. Ao invés, os europeus preferem o refúgio em fórmulas vagas onde se diluem responsabilidade e culpa.
Veja-se a reforma financeira agora aprovada nos Estados Unidos, que cria uma agência reguladora dos mercados. E contraste-se com a confusão e inércia europeias.
América e Europa, duas formas distintas de abordar a crise económica e financeira. Duas formas distintas de estar no mundo.

quinta-feira, maio 20, 2010

Os marcianos que paguem a crise

O PCP continua a tentar fazer crer a quem lhe prestar atenção que os serviços e produtos providenciados por empresas estatais são grátis - ou deveriam sê-lo.
Agora promoveram um abaixo-assinado contra a cobrança de estacionamento no novos parques da estação ferroviária de Setúbal. Como se propõem pagar pelas obras que foram feitas, pela manutenção das mesmas e pelos serviços prestados? Não sabem nem lhes interessa.
Claro que não lhes interessa para nada que muitos dos milhões de euros que fazem com que Portugal esteja na situação trágica em que está se devam aos deficits abissais das empresas estatais ligadas aos transportes - como a CP ou a REFER. Claro que não têm nada a dizer sobre as causas desses deficits a não ser que para remediar as consequências se deveriam aumentar impostos, criar novos impostos e, claro, gastar ainda mais em obras ou outros projectos que expandam o sector público estatal ou favoreçam grupos cujos interesses estejam ligados à expansão da despesa estatal. Nada disto Vos parece contraditório com os discursos dos dirigentes comunistas que incessantemente disparam contra "os interesses do grande capital"? Claro que é.
 
Infelizmente, noutros partidos a situação não é muito diferente, como temos podido verificar nos últimos anos de governo do Partido Socialista ou nos cuidados que os dirigentes do PSD sempre têm tido em não perder, também eles, o rumo socialista apontado pela Constituição que impõe a intervenção estatal em todos os aspectos da vida dos cidadãos.
Nada no discurso e prática dos governos dos últimos anos defendeu os contribuintes. Quem trabalha, poupa e investe apenas pode contar com a sanha destruidora de riqueza que caracterizou a intervenção dos governos (deste em particular), do estado e dos seus funcionários, na vida de todos nós.
Para mal dos nossos pecados, os marcianos ainda não se dignaram a pagar as facturas dos disparates feitos em todos estes anos de estatização dos recursos dos portugueses. Creio bem que não será ainda neste momento trágico que o FMM (aka, Fundo Monetário Marciano) se dignará a provomer a solvência das empresas estatais ou do OE nacional.
 
Já colocado no Insurgente.
 

quarta-feira, maio 19, 2010

Somos todos gregos


PS. Imagem "roubada" aos Ladrões de Bicicletas.

terça-feira, maio 18, 2010

Equívocos do Euro e da Nossa Europa

Este artigo de João Rodrigues, um economista contra a corrente do pensamento único, põe o dedo na ferida: o euro foi uma construção pensada para um mundo sem crises. Um mundo sem o acontecimento feito de imprevisibilidade que é parte indissociável da realidade. Da nossa e de todas as outras.
Perante o deflagrar da crise, vieram à tona as debilidades deste modelo de engenharia económico-financeira: sem mecanismos de solidariedade (não previstos no tratado), sem política orçamental comum e com estados privados das velhas políticas monetárias, a nossa Europa ficou refém dos mercados.
Sobram as recriminações dos mais fortes sobre as periferias pobres, vulgo, Grécia, Portugal e Espanha. Dizem os ricos (vide declarações de Angela Merkel) que o problema do euro radica nas disparidades ou assimetrias económicas existentes entre os países da moeda única. E que urge harmonizar tais disparidades. Ora aqui está outro equívoco da nossa construção europeia. Ou seja, o de pensar que as diferenças e desigualdades que radicam fundo na História podem ser apagadas por decreto; por recurso a engenharias económico-financeiras feitas a partir de cima.
E que resta às periferias, perante o quadro de austeridade que lhes é imposto pelos mais ricos? João Rodrigues lembra o caso argentino:

Na ausência de reformas de fundo na arquitectura do governo económico europeu, que passariam por um orçamento comunitário com muito mais peso e por um BCE disposto a apoiar os Estados da mesma forma que apoiou os bancos, só restará às periferias uma hipótese: reestruturar as dívidas e impor parte do custo do ajustamento sobre os credores, abandonar o euro e desvalorizar as respectivas moedas e iniciar um processo de reformas que passe pela inevitável nacionalização do sistema financeiro ou pela criação de uma verdadeira política industrial.

Já não é a primeira vez que países fazem isto com sucesso: a Argentina cresceu rapidamente nos anos subsequentes ao rompimento, em 2001, com a ortodoxia económica.

segunda-feira, maio 17, 2010

Leituras sobre Carris



A Conspiração Contra a América - Philip Roth

sexta-feira, maio 14, 2010

The Very Thought of You


Chet e Costello, para recordar que a beleza existe. Apesar do mundo de fealdade criado pelos especialistas da ciência económica e financeira.

quinta-feira, maio 13, 2010

Implicações da Crise no Sistema Político

A História repete-se, com este bloco central avant la lettre a impor uma nova austeridade ao país.
Perante este estado de coisas, estão reunidas as condições para um partido, à direita ou à esquerda do espectro político, corporizar o descontentamento popular.
Penso, concretamente, no CDS e no BE, partidos para os quais se abre um amplo campo de possibilidades políticas. Como sucedeu, no princípio dos anos oitenta, com o Partido Comunista Português, que chegou a atingir cerca de 20% de votos.
Sem querer fazer futurologia, não vejo o PC com a força necessária para protagonizar feito idêntico (a última crise dos renovadores esvaziou-o de muitos dos seus quadros). Mas acredito que tal será possível para o CDS ou o BE. Ou mesmo para um novo partido gerado nas margens do sistema político.
Certezas? Apenas a de que esta a crise vai ficar entre nós durante muito tempo.

A austeridade a que temos direito e a via argentina

Fomos em socorro dos bancos e, muito em particular, dos devaneios de gestores estranhamente considerados imprescindíveis pela nossa civilização. E acabámos presos num cabo das tormentas.
Sintoma da irracionalidade do nosso mundo, o mercado, essa nebulosa maníaco-depressiva, primeiro, entrou em êxtase com a acção dos estados no resgate dos principais potentados da alta finança, depois caiu em depressão por causa do endividamento desses mesmos estados.
Moral da história: os estados transferiram o fardo financeiro dos bancos para si mesmos, ficando a braços com défices e dívidas públicas monumentais. E como sempre, é ao trabalho que são impostos os maiores sacrifícios. Quanto ao capital, os governos raramente vão além das medidas simbólicas, meros simulacros de um esforço colectivo.
Vêm aí tempos difíceis para os povos desta nossa Europa refém de tecnocracias várias. Estamos todos nos mesmo barco. Nós, os gregos e os espanhóis.
Será o nosso caminho o da saída do euro? A via argentina para qualquer coisa de intermédio? É o que propõe, para a Grécia, George Irvin, num artigo de Opinião no Guardian:

In truth, Greece does have an alternative. Instead of submitting to the ferocious and pro-cyclical conditionality imposed by Germany and the IMF – cutting its budget deficit by 11% over three years in return for a €120bn (£104bn) loan – it could follow Argentina's example in 2001-02, and default on the bulk of its sovereign debt. This would mean abandoning the euro, introducing a "new drachma" and probably devaluing by 50% or more.

[...]
Eight years ago, Argentina defaulted on the major part of its sovereign debt and survived quite well. Many economists predicted that Argentina's debt default would result in currency collapse, hyperinflation and even greater economic contraction than it had endured during its 1999-2002 recession. Instead, after the 2001-02 debt default and subsequent devaluation against the dollar (from 1:1 to 3:1), GDP grew at over 8% per annum over the period 2003-2007 and annual inflation fell from over 10% per month in early 2002 to less than 10% per annum. By 2005, Argentina had sufficient reserves to allow President Néstor Kirchner to pay off its remaining $9.8bn (£6.4bn) loan from the IMF in full and discontinue its programme with them.

domingo, maio 02, 2010

Leituras sobre Carris



Law, Legislation and Liberty: A New Statement of the Liberal Principles of Justice and Political Economy - Friedrich August von Hayek

sábado, maio 01, 2010

Despedimentos em Cuba

Há quem diga que nós vivemos em estado de negação, o que, a avaliar pelo alinhamento dos telejornais e até da nossa imprensa dita de referência, é bem capaz de não andar muito longe da verdade.

Tudo isto a propósito da tormenta que se prepara para se abater sobre o nosso país,não assim há muito tempo visto como um oásis perene.

A crise é global e nem a Cuba socialista lhe escapa. A ser verdade esta notícia do jornal El Pais, o regime dos irmãos Castro prepara-se para despedir cerca de um milhão de trabalhadores estatais, uma receita clássica, tão do agrado dos neo-liberais. Para a sintonia ser perfeita, basta tão-só substituir a palavra trabalhador por colaborador.

Un trabajador cubano dormita sobre una carretilla... Otro, sentado en un pedrusco, se limpia las uñas con un alambre. Sólo un tercero da unos golpes de cincel en un murete, tampoco demasiados. La escena es de ayer mismo, y esta brigada estatal que trabaja a las afueras de La Habana es representativa de lo que sucede en todo el país; en la Cuba socialista uno puede comer en una cafetería de 10 mesas atendida por 20 empleados, hay empresas con tantos inspectores y vigilantes como obreros y la plantilla nacional de dirigentes supera las 380.000 personas, casi un 9% de los trabajadores estatales.

Raúl Castro lo admitió hace tiempo: los salarios no alcanzan. Obviamente, ganar el equivalente a 15 euros al mes no estimula la productividad, pero el problema de las plantillas infladas no es menos grave. El 4 de abril, el presidente cubano reconoció que en el sector estatal sobran un millón de puestos de trabajo. Una barbaridad; esto representa uno de cada cuatro cubanos que trabaja para el Estado.


In El Pais

PS. Não nos esqueçamos que Raúl Castro é admirador das reformas chinesas. Ora, a China de hoje é capitalismo puro e duro, fazendo parecer os Estados Unidos uma mera manifestação benigna desse formidável modo de produção. É por isso que os nossos neoliberais gostam cada vez mais da China. E cada vez menos dos Estados Unidos e da Europa. Não é de admirar que o mesmo aconteça com Cuba (é só esperar pela morte de Fidel, que ainda vai refreando os ímpetos do irmão).