sexta-feira, junho 04, 2010

Líbano


Fui ver o Líbano, filme de cariz autobiográfico acerca da experiência de guerra do cineasta israelita Samuel Maoz.
Maoz viveu a guerra do Líbano do início dos anos oitenta, enquanto parte da tripulação de um tanque. É pelo prisma dos tripulantes deste tanque que somos transportados para o teatro de guerra do Líbano. E o dispositivo é tremendamente eficaz! É raro a experiência de guerra oferecida pelo cinema estar assim tão próxima de nós. Tão próxima que se torna verdadeiramente aterradora. Como na realidade é a guerra. Uma guerra que nada tem de asséptico, ao contrário de outros filmes ou da propaganda militar feita de imagens a remeter para meros jogos de computador. Aqui tudo é bem real: da devastação dos raides aéreos às operações de limpeza dos militares, com a morte de inocentes sempre presente.
Líbano é filmado na obscuridade asfixiante de um tanque. Em tons baços. Há o suor, a fadiga e o medo estampado no rosto dos tripulantes jovens, a viver uma experiência que lhes deixará cicatrizes para o resto da vida.

Líbano é eficaz mesmo quando não mostra: vemos os dois cristãos falangistas a desaparecerem do campo de visão do tanque. Depois escutamos uma música. Uma música seguida do crepitar de rajadas de metralhadoras. E somos remetidos para Sabra e Shatila.

Líbano termina com a beleza e a quietude de uma paisagem de girassóis, e o tanque imóvel no seu seio. Talvez o que poderia ter sido. Um mundo sem a experiência da guerra.