quinta-feira, julho 14, 2005

Uma Revolução Coperniciana

Depois do pesadelo tornado realidade, as autoridades de Sua Majestade descobriram que os perpetradores de tão hediondo acto eram cidadãos britânicos, integrados socialmente; escolarizados e com profissão.
Estamos longe da representação social do terrorismo como fenómeno que radica na pobreza e ignorância dos homens. O perfil dos terroristas de Londres não se ajusta a tal estereótipo.
As causas são outras, pertencem ao domínio das representações históricas e religiosas, o sentimento difuso de que o Ocidente é opressor, apoia e sustenta, no mundo árabe e muçulmano, regimes despóticos e corruptos, responsáveis pelo declínio de uma civilização outrora florescente e próspera. O pan-islamismo emerge assim como poderosa ideologia, depois do fracasso das tentativas de modernização inspiradas em ideias ocidentais (vide o ocaso do nacionalismo laico pan-árabe e do socialismo).
Na trajectória social do indivíduos que levaram a cabo o atentado de Londres, o elemento religioso era preponderante na estrutura da identidade, submergindo a pertença nacional. Segundo o relatório dos serviços secretos britânicos, muitos destes jovens vêem a política externa britânica em relação ao mundo muçulmano como tendo dois pesos e duas medidas : agressiva no Iraque e Afeganistão, timorata em Caxemira e na Chechénia.
Existe, pois, uma vasto campo de recrutamento para a Al-Qaeda e algozes.
Creio que só uma revolução coperniciana na política externa do Ocidente poderá travar a actual espiral de ódio e violência.