O país (ir)real
Nem vale a pena me chamarem "snob". Não sou, nunca fui e nunca serei. Não tenho nenhuma inclinação para a segregação social. Pelo contrário.
Mas que o povo deste país me deixa pouco optimista, lá isso...
Durante as férias tive a oportunidade, que me escapa o resto do ano, de tomar o pequeno almoço a horas civilizadas e com o tempo necessário às mastigações recomendadas. Pude dar uma vista de olhos aos programas que ocupam as manhãs da RTP e SIC (parece que o da TVI também foi de férias). Grande lição de (ir)realidade. Ali, aos meus olhos e ouvidos, estavam os cidadãos deste país. Empurrando-se até conseguirem tempo de antena para mandar beijinhos aos parentes e amigos, para conseguir mostrar o cartaz que assinalava a sua presença (pessoal ou em representação), para dar a conhecer as avós portuguesas (tarefa meritória esta, a de dar tempo de antena às avós; já quanto aos netos...).
Por vezes, e muitas vezes na blogosfera, esquecemos que é este, maioritariamente, o país real. Aquele que não lê blogs, não leu Haye(c)k, não sabe que a direita não é liberal nem se importa com a anacleta revolução permanente e urbana. Estarão também entre os cidadãos que em Outubro vão escolher, entre os caciques locais, aquele que maiores benefícios lhe trará ou aquele que o "opinion maker" da freguesia aconselhar. Serão os mesmos que em Janeiro irão escolher entre Soares e Cavaco, entre o "bochechas" que os livrou de fascistas e comunistas e o Sr. Prof. que fez as estradas que ajudam a que os filhos, netos e demais parentes emigrados, cheguem mais depressa à aldeia.
Também as gerações mais novas que apareciam nas manhãs televisivas, se mostravam continuadoras deste Portugal pouco literado (alfabetizado?), a continuação garantida de um país desfazado da realidade educacional, cultural e tecnológica do resto da Europa. Muitos deles estarão, infelizmente para sempre, excluídos de qualquer "choque tecnológico" mas continuarão a depender do estado providência para sobreviver. As escolhas dos governantes na repartição do dinheiro dos impostos não será alheia ao apoio que possam deles derivar, num movimento circular que ajuda a perpetuar o atraso do país.
Mas sejamos optimistas: há sempre as crianças "pós-choque". Por elas (e também pelos já mais mais crescidos) valerá a pena tentar mudar o país.
Texto já colocado no Insurgente.
Mas que o povo deste país me deixa pouco optimista, lá isso...
Durante as férias tive a oportunidade, que me escapa o resto do ano, de tomar o pequeno almoço a horas civilizadas e com o tempo necessário às mastigações recomendadas. Pude dar uma vista de olhos aos programas que ocupam as manhãs da RTP e SIC (parece que o da TVI também foi de férias). Grande lição de (ir)realidade. Ali, aos meus olhos e ouvidos, estavam os cidadãos deste país. Empurrando-se até conseguirem tempo de antena para mandar beijinhos aos parentes e amigos, para conseguir mostrar o cartaz que assinalava a sua presença (pessoal ou em representação), para dar a conhecer as avós portuguesas (tarefa meritória esta, a de dar tempo de antena às avós; já quanto aos netos...).
Por vezes, e muitas vezes na blogosfera, esquecemos que é este, maioritariamente, o país real. Aquele que não lê blogs, não leu Haye(c)k, não sabe que a direita não é liberal nem se importa com a anacleta revolução permanente e urbana. Estarão também entre os cidadãos que em Outubro vão escolher, entre os caciques locais, aquele que maiores benefícios lhe trará ou aquele que o "opinion maker" da freguesia aconselhar. Serão os mesmos que em Janeiro irão escolher entre Soares e Cavaco, entre o "bochechas" que os livrou de fascistas e comunistas e o Sr. Prof. que fez as estradas que ajudam a que os filhos, netos e demais parentes emigrados, cheguem mais depressa à aldeia.
Também as gerações mais novas que apareciam nas manhãs televisivas, se mostravam continuadoras deste Portugal pouco literado (alfabetizado?), a continuação garantida de um país desfazado da realidade educacional, cultural e tecnológica do resto da Europa. Muitos deles estarão, infelizmente para sempre, excluídos de qualquer "choque tecnológico" mas continuarão a depender do estado providência para sobreviver. As escolhas dos governantes na repartição do dinheiro dos impostos não será alheia ao apoio que possam deles derivar, num movimento circular que ajuda a perpetuar o atraso do país.
Mas sejamos optimistas: há sempre as crianças "pós-choque". Por elas (e também pelos já mais mais crescidos) valerá a pena tentar mudar o país.
Texto já colocado no Insurgente.