sexta-feira, maio 26, 2006

Timor

Timor, o primeiro país a nascer neste século ainda de curta existência, vive horas difíceis.
Pouco sei acerca das gentes, da cultura e da história de Lorosae (o meu avô, que era inspector das finanças, permaneceu aí um ano, no tempo em que este território era então uma possessão portuguesa), apenas consigo entrever um problema clássico nos processos de autodeterminação do Terceiro Mundo, para empregar uma expressão que caiu em desuso. Como integrar, na vida civil, homens que se fizeram na guerra e quase não conhecem outro mister, sabendo que nem todos poderão ser absorvidos pelas futuras forças de segurança do novo Estado. Penso que esta questão foi negligenciada pelas Nações Unidas, que administraram este território durante o período transitório para a independência. Por outro lado, o governo de Alkatiri revelou alguma inabilidade perante tão espinhoso problema. E Xanana Gusmão tem permanecido num estranho mutismo.
Portugal prepara-se para integrar uma força internacional que se espera venha a contribuir para criação de um clima de paz propício à negociação entre as partes. Contudo, a presença de militares estrangeiros é condição necessária mas não suficiente. Sem o envolvimento da comunidade internacional, no desenvolvimento de programas de reinserção destes ex-combatentes, não creio que a actual situação venha a conhecer um feliz desenlace.
Regressando à nossa participação, é de saudar o consenso entre todas as forças com assento na Assembleia da República, apenas com uma triste excepção: o Bloco de Esquerda veio, por intermédio do deputado Luís Fazenda, pôr em causa uma intervenção internacional mesmo sob a égide da ONU, alegando tratar-se de possível ingerência nos assuntos internos de um Estado soberano. Sinceramente, parece-me que o Bloco foi tocado por um reflexo pavloviano, em que uma qualquer força transnacional é sempre expressão da perfídia imperialista. Doença infantil?