terça-feira, junho 10, 2008

Imagens de um país sequestrado

Esta noite, de viagem entre Lisboa e Setúbal, reparo que os postos de abastecimento à saída da capital estão entupidos por automobilistas que acabaram de ver os telejornais.
À notícia da escassez de combustíveis em alguns pontos de venda, lá voltaram a despir os pijamas, meteram-se nos carros e foram direitos ao posto mais a jeito. Ou onde ainda houvesse combustível.

Como me preparo para seguir a viagem ainda mais para Sul e sendo eu humanamente sensível aos alarmes noticiosos da escassez do petróleo combustível, pensei ser melhor abastecer esta noite.
No PA da Galp, alguns veículos, mais que o habitual, também são abastecidos. Dirijo-me à caixa para pagar, quando reparo em duas carrinhas de transporte da GNR que entram no posto. Um dos soldados dirije-se à caixa mas a meio caminho recebe o aviso da funcionária: “O gasóleo está esgotado. E escusa de ir procurar noutro lado.” O soldado da GNR, pára, passa a mão pelo cabelo e eu leio-lhe a expressão: “Ó Diacho! E agora…?” Dá meia-volta e dá conta da novidade aos colegas que estava a tentar perceber porque não saía nada da pistola de abastecimento. Sirenes ligadas, lá saem as duas carrinhas à procura de provas de que a funcionária da Galp os estava a enganar, à procura de gasóleo.
A cena toda, da entrada rápida e decidida no posto, à cara de espanto/preocupação do soldado, à luminosa e ruidosa saída das carrinhas, esta cena, provocou alguns sorrisos (Schadenfreude?) nos que esperavam na fila para pagar (gasolina, claro).

O meu sorriso acabou alguns segundos depois quando regresso ao carro e me cruzo com o condutor da ambulância do INEM acabada de chegar e que se dirige apressado à caixa. A resposta, que não ouvi, seria certamente: “Não há gasóleo.“

Espero que não hajam mais mortos causados pela transformação do direito à greve no direito ao sequestro sem punição.


Já colocado no Insurgente.