terça-feira, fevereiro 15, 2005

Não vai haver choques

O que resulta dos programas políticos dos dois maiores partidos é uma falta de coragem política (como sempre) para criar um corte com a actual maneira de governar. Não se vê no horizonte um verdadeiro choque de governação.
A noção de que o que faz falta é confiança e que esta é induzida directamente pelo discurso do governo não me parece correcta. Mais eficaze seria uma proposta governativa que devolvesse aos cidadãos o poder de decisão que há muito o providencial estado lhes vem retirando. Claro que com esta devolução de responsabilidades teria de vir também uma diminuição do valor que os estado retira aos contribuintes para financiar as suas despesas. Os contribuintes, individuais ou empresariais têm melhor capacidade de avaliar se existe ou não razões nesta pequena economia muito aberta, para investir, counsumir ou poupar.
Este choque de governação implicaria, de facto, induzir um estado de choque nos cidadãos e nas empresas para que estes se apercebam que não podem continuar de mãos estendidas, à espera de toda a sorte de subsídios que lhes amortizem a inconsequência ou os maus resultados das suas decisões. Cada vez que o estado subsídia uma actividade, significa que retirou riqueza produzida por uns para a distribuir a outros. Ou seja, financia os rendimentos de uns diminuindo os rendimentos líquidos de outros. Isto ocorre levianamente sem se ter em consideração que provavelmente se diminui os rendimentos disponíveis daqueles com maior capacidade de gerar riqueza e que pela sua actividade permitem que a sociedade como um todo beneficie. Tratam-se de perdas para a sociedade. Podia aqui referir-se os impostos progressivos como desincentivo à aumento de riqueza e como incentivo à fuga na declaração de rendimentos maiores.
O discurso do facilitismo, do paternalismo governativo, baixa as precauções e acautelamentos que todos devemos ter com os nossos rendimentos futuros, desincentivando a poupança em períodos de expansão, quando os rendimentos disponíveis permitiriam maior disponibilidade para tal. Esta poupança permitiria financiar consumos e investimentos futuros. Infelizmente foi assim durante o último consulado do PS e parece ser essa a noção que o discurso da confiança de Sócrates pretende perpetuar. Do lado de Santana não há a mínima coragem de ser a voz que diz que o rei vai nú: só aumentando os impostos se poderá manter as obrigações actuais do estado, quanto criar mais responsabilidades e despesas.
Estão criadas as condições para a perpetuação do actual sistema governativo. Não vai haver choques.