sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Suspeitas

Sobre as suspeitas que hoje são capa do Independente, nada se pode concluir nem ajuizar. Só se pode dizer que houve um jornal que conseguiu obter informações (fidedignas ou não) de uma investigação policial que devia ser conduzida o mais discretamente possível e que com isso terá aumentado as suas vendas e possíveis receitas publicitárias. Se o jornal actuou de má fé, sabendo que o nome de Sócrates só é associado a este caso por na altura ser membro do governo com o pelouro do ambiente (o que dada a localização ribeirinha do espaço lhe daria responsabilidades governativas na sua construção), há que tentar perceber a quem beneficia esta notícia. Aos accionistas do jornal? Aos autores dos demais boatos sobre Sócrates? Prefiro o pressuposto da isenção jornalistíca: o repórter conseguiu saber que a investigação envolvia um candidato a 1º ministro. Isto tornaria a notícia muito relevante para os eleitores poderem melhor ponderar a sua escolha.
Infelizmente neste caso, como em todos os outros de suspeitas sem veredicto de culpado, os leitores não têm uma visão crítica das notícias nem de como e quando são apresentadas. Os textos impressos transformam-se em factos quer o sejam ou não. As conclusões das investigações destas suspeitas nunca têm o mesmo destaque nem impacto porque são muito diferidas no tempo. O que importa é o efeito imediato resultante da "fuga de informação" transformada em parangona de primeira página.
Outra lição pode ser tirada desta situação e que é para mim bem mais importante. As suspeitas por detrás da notícia de que José Sócrates influenciou de alguma maneira as condições que permitiram a abertura do espaço comercial de Alcochete, só ocorrem porque o processo de criação e estabelecimento de empresas em Portugal inclui demasiado envolvimento estatal. Nada se faz sem que câmaras, institutos disto e daquilo, conservatórias e registos comerciais, associações comerciais e sei lá mais o quê, intervenham. Quanto maior o circuito de licenciamento maior a possibilidade de alguém aproveitar ilicitamente a sua posição.
Já a inauguração deste espaço comercial, no Verão passado, decorreu entre acusações de falta de licenças camarárias (conforme se pode ler nestas notícias). Teria a minha preferência o candidato que se proponha a "exterminar" estas forças de bloqueio. Bastava mesmo a suspeita dessa pretensão para fazer de mim um eleitor convicto da sua escolha.

Adenda: A P.G.R. informa que "até ao momento(...)não existe nenhuma suspeita de cometimento por parte do Engº José Sócrates de qualquer ilícito criminal relacionado com o processo de licenciamento".