quinta-feira, março 03, 2005

Os Liberais e a Cultura

Há um discurso, recorrente nos meios liberais, que se refere aos produtos culturais como sendo equivalentes a outros tipos de produtos. Portanto, a lógica de funcionamento seria a mesma de um produto agrícola, com mercados e consumidores. Os subsídios do estado emergem aí como factor de distorção, injustos porque, grosso modo, resultam de impostos que põem contribuintes a financiar projectos culturais que não irão consumir.
Nesta argumentação, os visados são os de sempre : o cinema português e o teatro independente, que, sem público(afirmação é, como sempre, redutora), viveriam à custa dos contribuintes.
Perante isto, importa afirmar a importância da cultura para uma sociedade mais rica e diversa, a existência de múltiplas obras à disposição dos vários públicos. Se os subsídios contribuem para o aumento da oferta cultural, então estamos no caminho de uma sociedade mais plural, ao invés de um mercado deixado às suas pulsões uniformizadoras, onde só há lugar para a produção massificada. Eu, por mim, prefiro viver numa sociedade em que os criadores não tenham de conformar o seu trabalho ao gosto das maiorias ou do que estas querem num determinada momento (exercício aliás de difícil perscrutação); em que haja tempo e lugar para a pequena produção, para as independências amaldiçoadas.