quinta-feira, dezembro 15, 2005

Alegre/Soares

Houve um período em que os candidatos Manuel Alegre e Mário Soares se perderam demasiado em Cavaco, contribuindo de forma involuntária para o reforço da aura presidencial deste. Foi a parte mais penosa do debate.
Ao contrário do que esperava, Alegre soube defender-se das investidas de Soares, que não foi capaz de expor as fragilidades que noutras ocasiões o “candidato independente” deu mostras. As temíveis interpelações de Soares, em jeito de saborosa subversão das regras do debate, não funcionaram nesta ocasião.
E gostei da clareza de Alegre, que afirmou ir até dissolução da Assembleia para preservar o sector das águas na esfera do Estado. Aí Soares tergiversou.
Notei também diferenças em relação aos dois grandes desígnios nacionais, a OTA e o TGV, com Alegre a ver com bons olhos a ligação de alta velocidade a Espanha e a rejeitar liminarmente o troço Lisboa-Porto (eu comungo da mesma posição) e Soares a refugiar-se na ambiguidade, mas deixando entrever o seu apoio ao novo aeroporto de Lisboa.
Sobre a política externa, Soares foi mais incisivo, dizendo-se contrário à presença da NATO no Afeganistão (lembrou a vocação defensiva desta aliança, para incómodo de muitos) e sublinhando a ineficácia de intervenções militares como a do Iraque no combate ao terrorismo. Aqui, esteve em coerência com a sua intervenção cívica dos últimas anos.
Em suma, tivemos um debate vivo e com focos de interessante. Não arrisco vencedor, mas vejo algum mal-estar algures na blogosfera.