terça-feira, dezembro 06, 2005

O debate e coisa mais importantes

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Não vi o debate até ao fim. Estava a ser monótono, com os dois candidatos na defensiva, um Cavaco hirto e um Manuel Alegre politicamente cristalizado. Foram abordados temas (a economia, a necessidade de qualificação da mão-de-obra, etc.) que não se inscrevem na esfera do presidente, mas sim na do governo. Em coerência, deveriam ter defendido um reforço dos poderes presidenciais, mas para isso era preciso audácia
Assim, decidi ir ao cinema ver Grizzly Man, retrato de um amador da natureza que teve uma morte trágica às mãos de um urso pardo do arquipélago Kodiak.
Timothy Treadweel viveu treze verões entre os ursos pardos, de 1990 a 2003, recolheu mais cem horas de filme, material que constituiu a matéria-prima para este espantoso documentário de Werner Herzog.
Assume a forma de uma biografia confessional em que perpassa todo o desajustamento de Treadwell em relação à sociedade (um passado de drogas, álcool e marginalidade), uma insubmissão infantil e um desejo profundo de ordem e harmonia que pensa descobrir na natureza. Mas a natureza não é harmonia, é ao contrário um mundo brutal e implacável, é, nas palavras de Herzog, o caos.
Treadwell é inocência, êxtase humano num mundo habitado por animais selvagens, desejo de pertença à natureza. E Isso para mim foi o melhor do filme. Sabemos que é um logro e que acabará vítima dessa mesa natureza que tanto amava e queria proteger, mas o significado de uma vida perdura.