"Belém é mais longe que Lisboa"
No Público de hoje, reportagem das eleições palestinianas pela sempre excelente Alexandra Lucas Coelho. Só por causa dos seus artigos, vale a pena comprar o periódico.
Em entrevista com o cientista político palestiniano Saleh Abdul Jawad, “ o sociocídio de Israel.”
Os israelitas queriam a divisão dos palestinianos. Criaram isto. Jogaram a favor do Hamas a partir do fim dos anos 1970, dando apoio à Irmandade Muçulmana.
A destruição de infra-estruturas da Autoridade Palestiniana, como quartéis de polícia e ministérios, pelo exército israelita durante a segunda intifada faz parte deste processo, acrescenta Jawda. “Não teve nada a ver com segurança. A ideia era criar uma situação caótica. E acho que eles não estão nada preocupados agora com a insegurança nos territórios. È como a célebre frase do general Moshe Dayan : “deixem-nos apodrecer no seu próprio molho.”
Jawad detecta na política de Israel em relação aos palestinianos um sistema a que chama “sociocídio”, distinto do apartheid, que inicialmente tinha um conteúdo neutro, de separação. Se a ideia de separação “estava presente no primeiro momento da ideia sionista”, o que existe agora é “uma violência subtil, diária, que visa impedir o desenvolvimento económico e destruir as instituições”.
Dá o exemplo de Bir Zeit, a mais importante universidade palestiniana, com seis mil estudantes. “Desde 1974, fomos obrigados a fechar 16 vezes, por períodos de dois três meses.” Residente em Ramallah, a 10 quilómetros de Jerusalém, Jawad foi a Jerusalém duas vezes em quatro anos. E a Belém, nenhuma. “Belém é mais longe que Lisboa”.
Se o objectivo do muro de separação é “tirar terra, definir a fronteira”, também é pôr os palestinianos num ghetto onde possam explodir.
Alexandra Lucas Coelho, in Público, 25/01/2006