O Orientalismo
Arthur James Balfour, ilustre político conservador do início do século passado, proferiu, em 13 de Junho de 1910, na Câmara dos Comuns um discurso intitulado “Os problemas que enfrentamos no Egipto”. Deixo aqui dois excertos deste discurso para assinalar equivalências com a nossa contemporaneidade:
Em primeiro lugar, observemos os factos deste caso. As nações ocidentais, a partir do momento em que nascem para a história, dão testemunho da sua capacidade de autogestão […] por méritos próprios […] Podemos olhar para toda a história dos orientais, na região que conhecemos como Oriente, e não encontrar quaisquer vestígios de autogestão. Todas as grandes épocas - e foram de facto muito grandes - floresceram sob o despotismo, sob governos absolutos. Todos os seus grandes contributos para a Civilização – e foram de facto grandes – foram realizadas sob essa forma de governo. Um conquistador sucedeu a outro, um império sucedeu a outro; mas nunca, em nenhumas das revoluções do destino e da fortuna, terão visto uma dessa nações estabelecer aquilo a que, do ponto de vista ocidental, chamamos autogestão.
É bom para estas grandes nações – admito a sua grandeza – que esta gestão total seja exercida por nós? Julgo que sim. Acredito que a experiência nos mostra que com este governo conseguiram o melhor governo de todos os que tiveram lugar ao longo da história do mundo; facto que não os beneficia apenas a eles, mas a todo o Ocidente Civilizado. […] Estamos no Egipto não apenas para o bem dos egípcios, anda que lá estejamos para bem deles; estamos no Egipto para bem de toda a Europa.
Em primeiro lugar, observemos os factos deste caso. As nações ocidentais, a partir do momento em que nascem para a história, dão testemunho da sua capacidade de autogestão […] por méritos próprios […] Podemos olhar para toda a história dos orientais, na região que conhecemos como Oriente, e não encontrar quaisquer vestígios de autogestão. Todas as grandes épocas - e foram de facto muito grandes - floresceram sob o despotismo, sob governos absolutos. Todos os seus grandes contributos para a Civilização – e foram de facto grandes – foram realizadas sob essa forma de governo. Um conquistador sucedeu a outro, um império sucedeu a outro; mas nunca, em nenhumas das revoluções do destino e da fortuna, terão visto uma dessa nações estabelecer aquilo a que, do ponto de vista ocidental, chamamos autogestão.
É bom para estas grandes nações – admito a sua grandeza – que esta gestão total seja exercida por nós? Julgo que sim. Acredito que a experiência nos mostra que com este governo conseguiram o melhor governo de todos os que tiveram lugar ao longo da história do mundo; facto que não os beneficia apenas a eles, mas a todo o Ocidente Civilizado. […] Estamos no Egipto não apenas para o bem dos egípcios, anda que lá estejamos para bem deles; estamos no Egipto para bem de toda a Europa.
Edward Said, in Orientalismo.
A parte que destaquei a bold tem como fim realçar analogias com o discurso dos neoconservadores americanos. Estes estão no Iraque para “praticar o bem” e para “servir a causa da democracia e do mundo civilizado”. A lógica é a da imposição ao outro, “o oriental”.
Poderíamos parafrasear Marx, dizendo que a História se repete, primeiro como tragédia, depois como comédia, se o Iraque actual não fosse uma tragédia.
A parte que destaquei a bold tem como fim realçar analogias com o discurso dos neoconservadores americanos. Estes estão no Iraque para “praticar o bem” e para “servir a causa da democracia e do mundo civilizado”. A lógica é a da imposição ao outro, “o oriental”.
Poderíamos parafrasear Marx, dizendo que a História se repete, primeiro como tragédia, depois como comédia, se o Iraque actual não fosse uma tragédia.