sexta-feira, março 17, 2006

Paris em revolta II

Pelo teu post, o Estado-providência tem de facto as costas largas e o peso do determinismo na explicação dos comportamentos individuais, no caso as manifestações de indignação.
Os jovens viveriam então no conforto e na protecção desse mesmo Estado, tolhidos pelo medo da mudança e, por isso mesmo, incapazes de compreender a bondade das medidas governamentais. Ou seriam “facilmente arregimentados”. Por quem? Pela extrema-esquerda, claro está.
Além disso, perpassa o subtexto do empresário incansável criador de riqueza por contraponto ao trabalhador “improdutivo”, peça tornada inútil na engrenagem capitalista... A realidade a preto e branco.
As manifestações talvez exprimam a recusa de um mundo onde não há escolha possível, para além do desemprego ou do trabalho sem direitos à mercê das idiossincrasias do empresário. Desempregados ou trabalhadores no fio da navalha, em todo caso cada vez mais nas margens de uma sociedade cada mais polarizada.
É a sociedade refém do ethos capitalista, naquilo que este tem de pior, o pesadelo de um futuro assente somente no primado do lucro.
No ideário liberal deste nosso admirável presente, a ética parece ser apenas atributo de capitalistas, a quem deveríamos agradecer a riqueza criada e a nossa condição de felizes consumidores.