quinta-feira, abril 13, 2006

Ainda a França

Eu sei que é próprio do fervor ideológico o julgamento expedito, o reducionismo sobre as razões dos outros.
No cristalino mundo dos liberais nossos coevos, os jovens franceses agem contra o seu interesse próprio (ironia das ironias, aqui os liberais recorrem, certamente que de forma involuntária, ao conceito marxiano da falsa consciência), manipulados pelos actores do costume, os sindicatos e a extrema-esquerda. Estão pois excluídos do grupo dos agentes racionais, marionetas que são…
A mesma estreita lógica na abordagem do Estado e do mercado: se os jovens do hexágono preferem os empregos da República ao promissor universo das multinacionais é porque não amam o risco intrínseco à própria vida.
Nesta visão do mundo, quem protesta quer apenas recolher-se à sombra protectora do Estado, esfera destituída de qualquer valor. Já aceitação do CPE seria um gesto genuíno de amor à liberdade e ao mercado.
A amplitude dos protestos contra a institucionalização da precariedade esconde motivações diversas. É isso que explica a dificuldade dos actores políticos em enquadrar (eu nem gosto desta palavra) as manifestações, partidos de esquerda e sindicatos só mais tarde juntaram a sua voz à dos estudantes liceais e universitários.
Uma multidão de indivíduos escolheu a rua para dizer não a uma proposta política que lhes foi apresentada (quer dizer imposta) como o único caminho possível (esta fórmula em si mesma a rejeição da política, pois anula a escolha).
Há um grande potencial neste movimento que importa traduzir em termos políticos.
É esse o desafio que se coloca a todos os que nele participaram. E também a toda a esquerda.

L'individualisme positif, c'est l'idéal d'un monde où les engagements, les liens seraient choisis et non imposés. C'est la conception aussi bien de l'amour que de l'élection démocratique. Or qui pourrait affirmer que le CPE est un «lien choisi» par les jeunes ?