sexta-feira, julho 21, 2006

Médio Oriente, algumas impressões sobre a crise em curso

Os EUA parecem ter desistido da batalha pelas mentes e os corações das gentes do mundo árabe. Só assim se entende que nem sombra de crítica ou de condenação se vislumbre, nas declarações de responsáveis americanos, sobre a violência dos bombardeamentos que hoje assolam o Líbano. Sobre o cortejo de mortes civis. Sobre a punição colectiva que o Estado de Israel se arroga o direito de levar a cabo no país do cedro, que lentamente recuperava de uma longa guerra fratricida.
Israel, escudado no amigo americano, tem pois carta branca para fazer a guerra; para destruir infra-estruturas vitais para a vida civil e económica libanesa, enfim, para fazer este país árabe recuar cinquenta anos no tempo, como bem disse o primeiro-ministro Fuad Siniora.
As incursões em solo hebraico, primeiro de guerrilheiros palestinianos e, depois, da milícia do Hezbollah, evidenciaram fragilidades no exército israelita, que na região projecta a imagem de uma fortaleza inexpugnável.
Talvez por causa da necessidade de preservar o mito, o mito da invencibilidade alicerçado em guerras passadas, a resposta de Israel tenha sido tão desmedida, se tivermos em conta que no passado o recurso à troca de prisioneiros era prática regular. Isso mesmo era objectivo dos grupos que levaram a cabo estas acções. É preciso lembrar que, nas prisões de Israel, estão há vários anos muitos palestinianos e libaneses sem culpa formada, visto não terem sido alvo de qualquer acusação por parte de sistema judicial, facto que constitui sem dúvida uma séria entorse ao Estado de Direito.
Estamos no tempo breve do acontecimento, não sabemos como mais esta crise no Médio Oriente vai acabar. Mas no cerne de tudo isto permanece a questão palestiniana, que, enquanto não se derem passos sérios na sua resolução, continuará a ser a fonte onde vão beber os partidários do Islão militante.