terça-feira, setembro 12, 2006

Fragmentos de Berlim



Por momentos senti-me apreensivo: afinal, o meu hotel não ficava assim tão perto da mítica Alexanderplatz. Ao invés, ficava bem encerrado no território da Berlim Oriental, num desses bairros que imaginamos do período socialista, pautados por uma arquitectura de sabor funcionalista, mas que bem podiam ser considerados aprazíveis se comparados às construções que pululam pela nossa área metropolitana. E havia a eficaz rede de trens (eléctricos) pela noite dentro, de onde uma voz feminina vagamente sensual nos anunciava a Indira-Gandhi Strasse ou a Rosa-Luxemburg Platz.
Depressa aprendi a gostar desta cidade, que respira uma atmosfera de liberdade; das suas ruas e dos seus cafés, que aliam a sofisticação à simplicidade; dos seus bares lounge e das suas fábricas e edifícios abandonados que encerram espaços de folia e de cultura. Perto de Oranienburg, numa grande farra num desses edifícios abandonados/okupados, um anarquista quis-me dar propaganda eleitoral (Berlim está em eleições locais). Quando lhe disse que era de Portugal, quis saber se por cá também tínhamos anarquistas; eu respondi-lhe que havia, mas que não iam a eleições. Ele assentiu, dizendo que compreendia, que os anarquistas por norma não iam a eleições, mas que na Alemanha tinham feito um compromisso com o parlamentarismo. Do pátio interior, núcleo da festa, descia um candelabro de cores reluzentes e dele estava suspensa uma bola de espelhos; daquelas que ornavam as discotecas. A música era como que uma simbiose entre o punk e as sonoridades originárias dos Balcãs. Deliciosa desordem.