quinta-feira, abril 12, 2007

A Entrevista

Sobre a entrevista, destaco, a título de mera curiosidade, o anglicismo de que José Sócrates pelos vistos faz uso nas suas cartas; assim foi explicada a expressão “Do Seu Sócrates”, na carta dirigida ao Reitor.
Sócrates lá foi dizendo que cumpriu o que lhe foi pedido pela Universidade Independente, dessa forma procurando dissipar dúvidas sobre um hipotético favorecimento. Fica a ideia de que não buscou qualquer tratamento de favor, o que não significa que não tenha havido; compete aos responsáveis da universidade também esclarecer.
Foi patético, quando se entregou à exaltação da sua trajectória escolar, “os sete anos de ensino superior” que deveriam ser vistos, pela comunicação social, como um exemplo para os portugueses.
Eu continuo a achar que nem tudo isto é normal, como escrevi no post anterior, e corroboro por inteiro o António Barreto, no PÚBLICO de Hoje:

Um primeiro-ministro que acha que é normal que um deputado, ministro depois, se matricule em curso superior e obtenha diploma académico de recurso (feito em três universidades diferentes), ainda por cima em estabelecimento não reconhecido pela respectiva Ordem profissional.
Um primeiro-ministro que não percebe que um deputado e um membro de um governo não têm os mesmos direitos, ou antes, as mesmas faculdades que os outros cidadãos e não podem nem devem apresentar-se como candidatos a cursos pós-laborais que lhe confiram o estatuto académico a que aspiram!
Um primeiro-ministro que considera normal e desculpável que os seus documentos oficiais curriculares sejam corrigidos e alterados ao gosto das revelações públicas!


À margem da polémica, na segunda parte da entrevista, constatei que para Sócrates a esquerda está confinada às questões civilizacionais (fracturantes, diria o Bloco); ou seja, à reprodução medicamente assistida, à despenalização da interrupção voluntária da gravidez e à paridade, diplomas que o seu governo fez aprovar. Tudo o resto (o trabalho, a economia, para dar dois exemplos) está para além da esquerda, certamente inscrito numa qualquer dimensão tecnocrática.