quinta-feira, janeiro 10, 2008

A Obra foi para Alcochete

O processo começou na Ota e acabou em Alcochete, mas entre a necessidade de um aeroporto e uma obra de regime vai uma grande distância.

Nunca um projecto de investimento público, uma dessas grandes obras a que ciclicamente estamos acostumados, foi objecto de tanto escrutínio por parte da sociedade civil; de académicos, jornalistas, associações empresariais e bloggers mais ou menos anónimos. Isso talvez tenha reduzido os danos, ao ter evitado o que parecia ser o logro da Ota. O governo viu-se obrigado a recuar, perante o avolumar do questionamento que culminou no estudo da CIP; e na decisão de relegar para o Laboratório Nacional de Engenharia Civil o tira-teimas entre Alcochete e a Ota. Mas a sustentação técnica não nos deve cegar, o fundo da decisão é sempre político (saber se serve o interesse geral é outra questão). E tal como na Ota havia interesses, também os há em Alcochete.

Vamos ter obra em grande, ainda por cima com o bónus de uma nova travessia sobre o Tejo, e muito estudo encomendado à miríade de empresas que gravitam na órbita do Estado. Talvez as mesmas que com seus estudos legitimaram a Ota na última década e meia. Porque, nessa função simbólica, os estudos também ajudam a exaurir a fazenda.

Confesso o meu cepticismo sobre o efeito multiplicador do crescimento e do emprego que o novo aeroporto, imaginado como uma imensa plataforma giratória para África e as Américas, engendrará. E entristece-me o que daí poderá vir de surto imobiliário e desregramento ambiental.

P.S. Não sou habitante do Oeste…