Um novo rosto na Saúde
Os nossos governantes acreditam que a comunicação tem propriedades demiúrgicas; que um novo rosto, um outro discurso, mudará o curso da realidade.
Assim, temos um novo rosto na saúde. E da nova ministra não esperemos que embargue as políticas do seu antecessor, nomeadamente o fecho das maternidades e centros de saúde que tanto descontentamento geraram por esse país fora.
Ela terá por missão tornar aceitável, aos olhos das populações privadas das suas valências de saúde, a política gizada pelo seu antecessor. Contará por certo com uma legião de especialistas ou arautos da comunicação para levar o barco a bom porto, mas não é crer que tenha mais êxito. A realidade pode ser neste caso um formidável oponente: muito poucos aceitam de bom grado que lhes levem o centro de saúde da sua terra e nada lhe dêem em troca, a não ser uma outra estrutura, sem dúvida melhor apetrechada, mas a trinta ou quarenta quilómetros de distância. Para populações envelhecidas isso é fonte de insegurança (e pouco importa saber se há ou não razão para tal). A saúde é um bem precioso, demasiado real. Muitos ainda se lembram do tempo em que não havia serviços de saúde, desconfiam daquilo que o futuro lhes reserva, enfim, dificilmente serão tocados pela bondade dos critérios de índole tecnocrática esboçados pelo governo.
Também é preciso não esquecer que a disseminação das estruturas de saúde pelo território nacional representou um progresso notável, ao fazer recuar os padrões de mortalidade. Foi um grande feito do nosso serviço nacional de saúde. E as pessoas mais velhas, talvez as que se sentem mais afectadas pelas medidas presentes, ainda se lembram de como era dantes. Não há política de comunicação que resista a isso.