quinta-feira, junho 05, 2008

Este nosso mundo

Eram talvez umas sete da tarde, estava eu sentado numa esplanada a ler Vasily Grossman sobre Treblinka, quando sou sobressaltado por uma chamada da TMN. Passei do Mal absoluto que foi Treblinka para as trivialidades de um presente feito do novo pacote da operadora, de quanto ganharia ao subscrevê-lo.
Depois, dei por mim a pensar neste mundo que é o nosso, que se pode dar a esses luxos, que não raro toma o acessório pelo essencial. Enfim, de um mundo reduzido à mercadoria, às mais-valias bolsistas ...

É infinitamente duro ler isto. O leitor tem de crer em mim, é igualmente duro pô-lo por escrito. Alguém poderá perguntar: «porquê escrever sobre isto, porquê sequer recordar tudo isto?»
É dever do escritor contar esta terrível verdade, e é dever cívico do leitor aprendê-la. Todos os que virarem a cara, todos os que fecharem os olhos e não pararem, insultam a memória dos mortos. Todos os que não souberem a verdade sobre o que se passou aqui nunca serão capazes de compreender com que tipo de inimigo, com que tipo de monstro, o nosso Exército Vermelho iniciou o seu combate mortal.

Vasily Grossman, in Um Escritor na Guerra.


O escritor Vasily Grossman foi correspondente do Krasnaya Zveda (Estrela Vermelha), jornal do Exército Vermelho.
Cobriu as frentes de Moscovo e Estalinegrado, tendo ainda testemunhado a queda do Reich, na Batalha de Berlim. E também se deparou com a realidade de Treblinka.