Equívocos ou o Choque de Civilizações
A célebre tese de Samuel Huntigton tem sido glosada à exaustão nesta crise dos cartoons.
Choque de civilizações, as diferenças culturais como fonte potencial e primordial de conflito no dealbar do século XXI. A esta luz, Ocidente e Islão estariam em “guerra”, por serem portadores de valores civilizacionais irredutíveis.
Ora esta teoria comporta vários problemas, a começar no próprio conceito de civilização, que em Huntington parece assumir uma natureza imutável, meta-histórica.
Mas o que mais me arrepia é o determinismo intrínseco a esta teoria, a concepção culturalista de que os comportamentos individuais e as crenças dos homens são apenas produto destes diferentes complexos civilizacionais. Esquece-se tão-só de que as trajectórias dos indivíduos são, essas sim, irredutíveis, sempre singulares; mesmo que sujeitos ao mesmo ambiente cultural ou sistema de crenças, eles poderão divergir, assumir valores que estão nos antípodas.
Os que falam em “guerra de civilizações” reproduzem esta visão holista. E, paradoxalmente, o mesmo sucede com muitos dos adversários da teoria Huntingtoniana, que, nesta crise, se limitaram quase só a zurzir a “islamofobia dos cartoonistas”. Em ambos, a imagem das sociedades muçulmanas como totalidades monolíticas, onde não há diversidade nem dissensão. E assim, acabam por legitimar a posição dos islamistas, aos nossos olhos, depositários da “Civilização Islâmica”.
Não podia haver visão mais redutora, que esquece as vozes críticas da agit-prop islamista, como a da palestiniana Leila Shahid ou da egípcia Mona Eltahawy.
Choque de civilizações, as diferenças culturais como fonte potencial e primordial de conflito no dealbar do século XXI. A esta luz, Ocidente e Islão estariam em “guerra”, por serem portadores de valores civilizacionais irredutíveis.
Ora esta teoria comporta vários problemas, a começar no próprio conceito de civilização, que em Huntington parece assumir uma natureza imutável, meta-histórica.
Mas o que mais me arrepia é o determinismo intrínseco a esta teoria, a concepção culturalista de que os comportamentos individuais e as crenças dos homens são apenas produto destes diferentes complexos civilizacionais. Esquece-se tão-só de que as trajectórias dos indivíduos são, essas sim, irredutíveis, sempre singulares; mesmo que sujeitos ao mesmo ambiente cultural ou sistema de crenças, eles poderão divergir, assumir valores que estão nos antípodas.
Os que falam em “guerra de civilizações” reproduzem esta visão holista. E, paradoxalmente, o mesmo sucede com muitos dos adversários da teoria Huntingtoniana, que, nesta crise, se limitaram quase só a zurzir a “islamofobia dos cartoonistas”. Em ambos, a imagem das sociedades muçulmanas como totalidades monolíticas, onde não há diversidade nem dissensão. E assim, acabam por legitimar a posição dos islamistas, aos nossos olhos, depositários da “Civilização Islâmica”.
Não podia haver visão mais redutora, que esquece as vozes críticas da agit-prop islamista, como a da palestiniana Leila Shahid ou da egípcia Mona Eltahawy.