Cavaco e Sócrates.
Há a expectativa, largamente difundida entre os portugueses (a avaliar pela sondagem publicada ontem na SIC, se não estou em erro), de que Cavaco será um presidente “mais interventivo” do que o seu antecessor, Jorge Sampaio.
O discurso da tomada de posse privilegiou as questões do emprego e da economia, embora não esquecendo também a justiça e a reforma do Estado. Vai de encontro às preocupações dos portugueses. E além disso são questões de governo
Muitos realçaram, neste discurso, uma convergência com a agenda governamental do Eng. Sócrates, prenúncio de uma estreita colaboração institucional. Salientaram também a semelhança de perfis, ambos de pendor tecnocrático. Eu, aqui neste ponto, discordo profundamente, pois se o Prof. Cavaco Silva encarna o mito lusitano daquele que vem de fora, legitimado pelos títulos académicos, para pôr “ordem nos assuntos da política” (sucedeu exactamente o mesmo com o Prof. Oliveira Salazar, salvaguardando diferenças e tempos históricos) , já Sócrates é aquilo a que poderíamos designar de “político profissional”, com carreira inteiramente feita nas concelhias e distritais do partido até chegar a primeiro-ministro.
Esta diferença parece-me fundamental, visto que os portugueses, na sua maioria, olham com desconfiança os políticos profissionais (não será isso um sintoma do nosso atraso histórico, na medida em que por essa Europa fora não rareiam os homens comuns, políticos de formação, e que deram bons governantes ?) e valorizam demasiado os títulos académicos/profissionais, como se isso fosse condição primeira para o bom exercício da política.
Portanto, Cavaco tem uma importante vantagem simbólica sobre Sócrates, que poderá fazer toda a diferença. E, além disso, este último carrega o ónus das promessas não cumpridas.
É claro que subjacente a tudo isto está ideia de que o presidente tem uma agenda política própria, fruto do sufrágio universal e directo, e que não é a “Rainha de Inglaterra”.
E em Cavaco parece até haver um agenda moral, na figura de Sir João Carlos Espada.
Tempos interessantes...
O discurso da tomada de posse privilegiou as questões do emprego e da economia, embora não esquecendo também a justiça e a reforma do Estado. Vai de encontro às preocupações dos portugueses. E além disso são questões de governo
Muitos realçaram, neste discurso, uma convergência com a agenda governamental do Eng. Sócrates, prenúncio de uma estreita colaboração institucional. Salientaram também a semelhança de perfis, ambos de pendor tecnocrático. Eu, aqui neste ponto, discordo profundamente, pois se o Prof. Cavaco Silva encarna o mito lusitano daquele que vem de fora, legitimado pelos títulos académicos, para pôr “ordem nos assuntos da política” (sucedeu exactamente o mesmo com o Prof. Oliveira Salazar, salvaguardando diferenças e tempos históricos) , já Sócrates é aquilo a que poderíamos designar de “político profissional”, com carreira inteiramente feita nas concelhias e distritais do partido até chegar a primeiro-ministro.
Esta diferença parece-me fundamental, visto que os portugueses, na sua maioria, olham com desconfiança os políticos profissionais (não será isso um sintoma do nosso atraso histórico, na medida em que por essa Europa fora não rareiam os homens comuns, políticos de formação, e que deram bons governantes ?) e valorizam demasiado os títulos académicos/profissionais, como se isso fosse condição primeira para o bom exercício da política.
Portanto, Cavaco tem uma importante vantagem simbólica sobre Sócrates, que poderá fazer toda a diferença. E, além disso, este último carrega o ónus das promessas não cumpridas.
É claro que subjacente a tudo isto está ideia de que o presidente tem uma agenda política própria, fruto do sufrágio universal e directo, e que não é a “Rainha de Inglaterra”.
E em Cavaco parece até haver um agenda moral, na figura de Sir João Carlos Espada.
Tempos interessantes...