Três anos de Iraque
Três anos passaram de uma intervenção militar assente no primado da guerra preventiva e num unilateralismo avesso às instâncias internacionais de mediação dos conflitos, eis os eixos da política externa americana no Iraque.
A revolução democrática que iria mudar a face de todo o Médio Oriente (como nos tinham prometido os ideólogos neoconservadores) não se deu. Em vez disso, um Estado falhado ou em colapso e a irrupção sectária nas terras da antiga Mesopotâmia.
Pouco importa qual o limiar da guerra civil, o quotidiano dos iraquianos é hoje feito de atentados mortíferos, da arbitrariedade das milícias ou da incapacidade das forças ocupantes em garantir a segurança.
Os estrategos americanos tinham, como é sabido, previsto um cenário idílico quando dos preparativos da invasão: os soldados seriam recebidos com flores pelo povo iraquiano enfim liberto do jugo de Saddam Hussein; o pentágono contava retirar a maioria dos seus militares lá para o fim de 2003, deixando atrás de si uma democracia em florescimento.
Não contavam como uma insurreição prolongada num contexto urbano, pesadelo de qualquer exército, nem com a espiral de violência étnica que assola o país.
Mais do que incúria, o logro dos americanos é o mesmo em que caíram os ingleses em 1917.
Se há algo de bom a retirar desta triste aventura é o facto de ter servido para demonstrar os limites da hiperpotência, obrigando os responsáveis americanos a descer à terra, como se prova pelo discreto multilateralismo a que se têm remetido na crise do programa nuclear iraniano.
O regime dos aiatolas é talvez o maior beneficiado da empresa militar americana, tem caminho aberto para vir a ser a nova potência regional, depois do desastre iraquiano, país onde hoje uma coligação de partidos religiosos xiitas é força dominante, e vê a sua oposição reformista diminuída. Para tal desfecho, os mullahs em muito contaram com a preciosa, mas involuntária, ajuda dos políticos de Washington.