sexta-feira, junho 23, 2006

Timor

A crise em Timor agudiza-se, a violência de rua começa a ganhar contornos institucionais, nomeadamente com o conflito entre Xanana Gusmão e o governo do primeiro-ministro Mari Alkatiri.
É interessante verificar que a generalidade da imprensa lusitana tomou o partido de Xanana, ele incarna a pureza de Timor Lorosae, o antigo guerrilheiro que na mata travou um combate de David contra o colosso indonésio. Claro que o papel de vilão, esse, foi confiado a Alkatiri, o leninista que põe os interesses do partido (hoje, muitos lembram a ideologia marxista que deu corpo à Fretilin, mas esqueceram mui convenientemente esse dado histórico durante os anos da guerrilha independentista) acima do seu próprio povo.
Temos pois um quadro maniqueísta tão ao gosto da nossa imprensa, prodigiosa na arte de transformar a realidade. Assim, uma manif de pouco mais de um milhar de pessoas à frente do Palácio do Governo representa o povo timorense vigilante, em face do insidioso golpe estalinista que na sombra, por Alkatiri e Rogério Lobato entre outros, estaria a ser arquitectado.
De pouco importa que Alkatiri e o partido de que provém tenham sido eleitos democraticamente no quadro de um moldura constitucional vertida da antiga metrópole .
Porque em nome da preservação do mito do “bom selvagem timorense”, que reuniu numa frente única saudosistas “do Portugal do Minho a Timor”, gente ancorada nas memórias do PREC e democratas de toda a sorte, urge expurgar Timor dos maus elementos, como ainda há pouco advogava a diplomata Ana Gomes.