Violência na escola: uma questão de bom senso?
A violência na escola no centro do debate por força de uma reportagem da RTP.
Devo dizer que não vi a reportagem em causa, embora não tenha ficado indiferente aos seus ecos.
Sei que os professores aceitaram falar para a RTP, apenas na condição de que fosse preservado o seu anonimato; rosto ocultado e voz distorcida perante a câmara da televisão.
Penso que ao agirem assim poderão ter alienado a (pouca) autoridade que ainda lhes restava junto dos pais e alunos. O que acabei de dizer é menos uma crítica do que um juízo de facto. Não tenho com efeito qualquer intenção de julgar a conduta daqueles docentes. Muito provavelmente, fizeram-no por força de um quotidiano de violência cada vez mais insuportável.
A violência, uma das formas assumidas do conflito nas sociedades humanas, é um dado inelutável da existência, não é possível erradicá-la totalmente. Isto é válido tanto para a escola do antigo regime como para a escola democrática.
O problema está em saber gerir os níveis de violência ou de conflito, e hoje este fenómeno parece assumir grande repercussão nalgumas escolas, a ponto de se transformar em norma ou de produzir um quadro anómico.
Para além dos problemas inerentes à formação dos professores que trabalham em escolas que servem meios sociais desfavorecidos (e aqui tendemos a exigir do professor uma espécie de missionarismo a meu ver muito pouco realista; se devemos exigir aos docentes competências profissionais, já o espírito de missão ou o chamado voto de pobreza apregoado por alguns arautos das ciências da educação sem qualquer experiência da realidade concreta, me parece manifestamente exagerado), creio que algum bom senso poderia também contribuir para o recuo da violência escolar.
A começar pela reformulação do processo de aplicação de sanções, que de tão diferido no tempo acaba destituído de significado (aqui a responsabilidade é por inteiro do Ministério de Educação). Reforçar a autonomia das escolas no campo disciplinar, em vez de remetê-lo para a teia burocrática do ministério, já seria um avanço.
Por outro lado, a medida de expulsão do aluno em caso de reincidência não deve ser vista como uma espécie de anátema e começar desde logo a ser posta em prática (Será aceitável a um professor cruzar-se dia a após dia com seu agressor nos corredores da escola? Quantos de nós suportaríamos esta situação?). Quando falo de expulsão, não quero dizer exclusão do sistema de ensino, mas tão-só significar a transferência para um outro estabelecimento, desfrutando aí o aluno dos necessários apoios (psicológico, pedagógico, etc.) para uma trajectória futura inclusiva.
Em suma, é necessário reforçar a autoridade do professor e das escolas. E Sem uma cultura de responsabilização dos alunos e dos pais não vamos lá.
Devo dizer que não vi a reportagem em causa, embora não tenha ficado indiferente aos seus ecos.
Sei que os professores aceitaram falar para a RTP, apenas na condição de que fosse preservado o seu anonimato; rosto ocultado e voz distorcida perante a câmara da televisão.
Penso que ao agirem assim poderão ter alienado a (pouca) autoridade que ainda lhes restava junto dos pais e alunos. O que acabei de dizer é menos uma crítica do que um juízo de facto. Não tenho com efeito qualquer intenção de julgar a conduta daqueles docentes. Muito provavelmente, fizeram-no por força de um quotidiano de violência cada vez mais insuportável.
A violência, uma das formas assumidas do conflito nas sociedades humanas, é um dado inelutável da existência, não é possível erradicá-la totalmente. Isto é válido tanto para a escola do antigo regime como para a escola democrática.
O problema está em saber gerir os níveis de violência ou de conflito, e hoje este fenómeno parece assumir grande repercussão nalgumas escolas, a ponto de se transformar em norma ou de produzir um quadro anómico.
Para além dos problemas inerentes à formação dos professores que trabalham em escolas que servem meios sociais desfavorecidos (e aqui tendemos a exigir do professor uma espécie de missionarismo a meu ver muito pouco realista; se devemos exigir aos docentes competências profissionais, já o espírito de missão ou o chamado voto de pobreza apregoado por alguns arautos das ciências da educação sem qualquer experiência da realidade concreta, me parece manifestamente exagerado), creio que algum bom senso poderia também contribuir para o recuo da violência escolar.
A começar pela reformulação do processo de aplicação de sanções, que de tão diferido no tempo acaba destituído de significado (aqui a responsabilidade é por inteiro do Ministério de Educação). Reforçar a autonomia das escolas no campo disciplinar, em vez de remetê-lo para a teia burocrática do ministério, já seria um avanço.
Por outro lado, a medida de expulsão do aluno em caso de reincidência não deve ser vista como uma espécie de anátema e começar desde logo a ser posta em prática (Será aceitável a um professor cruzar-se dia a após dia com seu agressor nos corredores da escola? Quantos de nós suportaríamos esta situação?). Quando falo de expulsão, não quero dizer exclusão do sistema de ensino, mas tão-só significar a transferência para um outro estabelecimento, desfrutando aí o aluno dos necessários apoios (psicológico, pedagógico, etc.) para uma trajectória futura inclusiva.
Em suma, é necessário reforçar a autoridade do professor e das escolas. E Sem uma cultura de responsabilização dos alunos e dos pais não vamos lá.
A continuar assim, os mais prejudicados acabam por ser os bons alunos, que importa não esquecer que também os há nestas escolas desfavorecidas (a Escola Pública ainda desempenha um papel importante no combate às desigualdades sociais e tem constituído para alunos oriundos de meios desfavorecidos um veículo de acesso à instrução superior e por essa via da melhoria das condições socieconómicas).
Aos professores devem ser exigidas competências nos domínios das matéria curriculares e da pedagogia. Mas não transformemos os professores em psicólogos e assistentes sociais, pois nem tudo pode provir dos pobres docentes.
Aos professores devem ser exigidas competências nos domínios das matéria curriculares e da pedagogia. Mas não transformemos os professores em psicólogos e assistentes sociais, pois nem tudo pode provir dos pobres docentes.