quarta-feira, julho 26, 2006

Líbano, o olhar de Adonis

Com as suas 17 comunidades religiosas, nenhuma das quais maioritária, o Líbano que é bombardeado sob os nossos olhos é talvez o único país do Médio Oriente onde um projecto de sociedade laica se pode impor. Os outros Estados árabes nunca deixarão de ser teocracias, mesmo que se curvem por vezes superficialmente a algumas normas democráticas. Simplesmente porque as suas raízes são uniculturais- ou seja, muçulmanas. Do mesmo modo, a democracia israelita não pode fundar-se no pluralismo cultural e religioso. Isso seria uma perfeita contradição com o seu princípio fundador, que é o de ser um Estado-nação para todos os judeus do mundo – e somente para eles. O estabelecimento de uma democracia libanesa seria uma transgressão radical nesta parte do mundo, porque esta democracia seria – pela sua natureza - mais aberta, mais rica, mais universal e mais atraente do que qualquer outra sociedade da região. É esta esperança que se está em vias de destruir.

Adonis.
Escritor sírio, viveu em Beirute até 1980, quando se refugiou em França.

In PÚBLICO, 26/07/2006