sexta-feira, agosto 18, 2006

Vénus e Marte

É comum dizer-se que os EUA estão para Marte como a Europa contemporânea está para Vénus. E adaptando a mitologia romana ao conturbado Médio Oriente, o discurso da nossa direita não vê, a propósito do Líbano, lugar para Vénus. Não restaria pois à Europa, que se prepara para encabeçar a missão das Nações Unidas no País do Cedro, senão submeter-se a Marte e assim abraçar a arte da guerra. E tudo porque é preciso desarmar o Hezbollah, a nova besta negra dos nosso ideólogos neocons (o subtexto é o de que a solução reside no emprego da força, porque “os árabes só conhecem a linguagem da força”).
O processo de desarmamento do Hezbollah tem de ser gerido com pinças e compete, em primeiro lugar, aos libaneses concretizá-lo por meio de negociações políticas. A via tem de ser essa, a busca de consensos para que o pluralismo cultural que caracteriza o País do Cedro não rime, uma vez mais, com guerra civil. E a Europa pode dar um contributo importante, fazendo recurso à diplomacia; a uma diplomacia alicerçada na experiência histórica.
Importa ainda dizer que a questão do desarmamento da milícia do Hezbollah estava na ordem dia nos assuntos da política do Líbano. E que o governo saído das últimas eleições libanesas tinha aliás dado início a esse processo, que acabou abruptamente interrompido por uma inútil intervenção militar de Israel; que só veio reforçar a posição dos islamistas no xadrez político do Médio Oriente.
Se Marte tem sido impotente, no Iraque como no Líbano, talvez a chave do conflito esteja em Vénus. Não subestimemos pois o poder de Vénus.