Uma herança de Bush
André Abrantes Amaral quis recuperar o moral das tropas com recurso a um artifício retórico: sem a intervenção americana no Afeganistão e no Iraque (“destruição da células terroristas”), o mundo seria hoje ainda mais perigoso. E, além disso, os EUA não viram o solo pátrio ser novamente alvo de um ataque terrorista.
Olhemos então o mundo a partir dos interesses da hiperpotência americana.
Depois do sucesso inicial no Afeganistão, com a criação de uma ampla frente diplomática e o derrube do regime dos talibans, os EUA lançaram-se num projecto missionário nas territórios da antiga Mesoptâmia, fazendo uso de uma retórica não assim tão diferente da empregue pelos impérios Britânico e Francês ao longo dos século XIX e que se prolongou pelos primeiros decénios do século XX. Podemos ainda recuar a 1798, ano em que Napoleão empreendeu uma bem sucedida expedição militar ao Egipto. Bastará substituir as expressões “evangelizar” ou “civilizar” por “democratizar” e esbatem-se as diferenças entre discursos produzidos em distintos tempos históricos.
Hoje, é consensual que o projecto neoconservador, de promover através de um Iraque próspero e democrático uma revolução cultural que mudaria radicalmente a face do Médio Oriente, soçobrou no caos e na violência sectária. Muitos poucos duvidarão deste diagnóstico, não obstante os nichos fundados mais numa profissão de fé do que na razão (bem, mas sobre isso nada a fazer, ainda hoje há quem duvide de que a humanidade chegou à lua). E o que dizer dos renascidos persas? Que prosseguem lenta mas inexoravelmente o seu programa nucelar, insensíveis às demarches diplomáticas da Administração Bush? Junte-se-lhes a soberba da pobre e arruinada Coreia do Norte e temos um triste quadro da capacidade dissuasão americana.
Olhemos então o mundo a partir dos interesses da hiperpotência americana.
Depois do sucesso inicial no Afeganistão, com a criação de uma ampla frente diplomática e o derrube do regime dos talibans, os EUA lançaram-se num projecto missionário nas territórios da antiga Mesoptâmia, fazendo uso de uma retórica não assim tão diferente da empregue pelos impérios Britânico e Francês ao longo dos século XIX e que se prolongou pelos primeiros decénios do século XX. Podemos ainda recuar a 1798, ano em que Napoleão empreendeu uma bem sucedida expedição militar ao Egipto. Bastará substituir as expressões “evangelizar” ou “civilizar” por “democratizar” e esbatem-se as diferenças entre discursos produzidos em distintos tempos históricos.
Hoje, é consensual que o projecto neoconservador, de promover através de um Iraque próspero e democrático uma revolução cultural que mudaria radicalmente a face do Médio Oriente, soçobrou no caos e na violência sectária. Muitos poucos duvidarão deste diagnóstico, não obstante os nichos fundados mais numa profissão de fé do que na razão (bem, mas sobre isso nada a fazer, ainda hoje há quem duvide de que a humanidade chegou à lua). E o que dizer dos renascidos persas? Que prosseguem lenta mas inexoravelmente o seu programa nucelar, insensíveis às demarches diplomáticas da Administração Bush? Junte-se-lhes a soberba da pobre e arruinada Coreia do Norte e temos um triste quadro da capacidade dissuasão americana.