terça-feira, maio 29, 2007

O direito à greve e o direito ao “não me chateiem”

Não falei ainda com ninguém que vá exercer o seu direito à greve, durante o dia de amanhã.
Pelo contrário, tenho falado com quem está muito preocupado com a maneira como se deslocará para o trabalho e como regressará para casa.

Uma greve convocada para servir a bolorenta agenda do PCP, organizada por dirigentes que nunca trabalharam um dia na sua vida (bom, exagero… talvez o tenham feito antes do PREC e há outros que apenas estão destacados no serviço colectivo, isentos do esforço da habitual labuta diária).
Serve exactamente que propósito?
Que alteração ocorrerá na quinta-feira e nos tempos que se seguem? Mais investimento virá para Portugal, aumentará a eficiência da gestão, a rentabilidade das empresas subirá - resultarão da greve mais emprego e maiores salários reais? Irão os trabalhadores do sector privado diminuir o que pagam todos os meses, sob a forma de impostos? Irão os trabalhadores do sector público diminuir as suas exigências para com os rendimentos dos anteriores?

Dizia Carvalho da Silva ontem no Prós e Contras, pelo meio das caducas frases de ordem da praxe, que a greve não era contra o governo, era contra as suas políticas (o que provocou um sorriso no ministro, depois de se certificar que tinha ouvido o que todos nós ouvimos). E pronto. Basta. Os restantes argumentos são conhecidos: o governo deve obrigar as empresas a aumentar os salários exponencialmente, enquanto se diminui o tempo de trabalho e por isso se contratam mais trabalhadores. A descoberta e penetração em novos mercados de Marte, tal permitirá.

O sindicalista, certamente com as melhores intenções na promoção do paraíso proletário na Terra, representa o que de mais retrógrado existe no movimento sindical. A central do PCP já vai começando a reparar que até mesmo na extrema esquerda, há quem não se alinhe pela sua bitola (vide caso da comissão de trabalhadores da Autoeuropa).
E afinal quem representam?
Os que compreendem que são fornecedores num mercado, o do trabalho, e que como em qualquer mercado têm de lutar por se manterem competitivos, sempre à procura de novas oportunidades de rentabilizar (como qualquer empreendedor) os seus conhecimentos, capacidades e tempo?
Os que percebem que sem procura ou dificultando a rentabilidade da mesma, não há mercado? Que criando barreiras à entrada, se protegem só os que já lá estão (e mais ainda os que conquistaram “direitos sociais inatacáveis”, como contratos vitalícios) e se prejudicam os mais novos e os desempregados?

Nada de novo no que digo, reconheço. Os argumentos de quem não compreende a manipulação do mercado de trabalho e do dia-a-dia da economia, à sombra do direito à greve, não são novidade para quem se recusa a ser mais uma ovelha, mais um proletário conduzido no caminho do suposto, e sempre prometido, bem colectivo.
O comunismo sindical está-se marimbando para cada um, para as opções de vida de cada trabalhador. Amanhã, voltarão os piquetes de greve a controlar quem não alinha, para apontar dedos (esperemos que nada mais que isso), para afastar qualquer hipótese de não se ser perturbado na sua vida. Como um efeito destas acções de mobilização, muitos de nós, trabalhadores, amanhã seremos cerceados na nossa liberdade.

Como eu, amanhã, muitos de nós não teremos o Estado nem os sindicatos a protegerem-nos o mui sagrado direito ao “não me chateiem”.


PS - Podem começar a chamar-me fásssssista, servidor dos exploradores capitalistas ou até a dizerem que se falo assim é porque sou rico e não preciso trabalhar para viver.

Já colocado no Insurgente.