terça-feira, novembro 20, 2007

Kosovo: a Independência no horizonte


Das eleições legislativas realizadas no Kososo, emerge um rosto. O rosto de Hashim Thaci, líder do Partido Democrático do Kosovo, que delas saiu vitorioso.
Hashim Thaci é portanto um líder legitimado em eleições democráticas, se entendermos a democracia como a expressão do voto da maioria. Mesmo que essa maioria tenha uma conotação étnica, implicando a exclusão do outro. E, aqui, o outro confunde-se necessariamente com a minoria sérvia. É certo que poderíamos lembrar outros remanescentes, hoje reduzidos à quase inexistência por força da política de limpeza étnica levada a cabo pelas autoridades albanesas kosovares. A própria minoria sérvia parece reduzida ao menor denominador comum, confinada a pequenas parcelas de território, breve, guetizada.
Eis a triste herança deixada pela União Europeia e a Nato, a quem incumbia proteger os diferentes grupos étnicos desta província da Sérvia. .
Ironicamente, a intervenção militar da Nato, feita em nome de um Kosovo multiétnico que importava preservar, acabou por desembocar num território hoje muito menos diverso. Inúmeras famílias de sérvios kosovares abandonaram as suas casas e terras, perante a violência das milícias armadas do UCK, o exército de libertação do Kosovo, de Hashim Thaci. Convém lembrar que os guerrilheiros do UCK, responsáveis pelo exacerbar das tensões nos anos de 1996-99, foram armados pela Nato ainda antes do eclodir da (criminosa) agressão à Jugoslávia (1999). Vivesse Hashim Thaci noutra latitude, e muito provavelmente seria considerado um terrorista pelos EUA e a União Europeia. Mas não. Ele será o próximo primeiro-ministro do Kosovo, legitimado pelas urnas, prepara-se para proclamar a independência unilateral. E acabará por ver os seus esforços serem recompensados. Por um Ocidente que, desrespeitando o princípio da integridade territorial, se prepara para dar a sua caução à independência do Kosovo, fazendo tábua do acordo que pôs fim à guerra, a resolução 1244 da ONU, que consagrava o respeito pelas fronteiras da Jugoslávia. Para os líderes democráticos deste nosso Ocidente, os acordos internacionais não passam de pedaços de papel prontos a serem rasgados... E é o regime autoritário da Rússia de Putin quem vem lembrar, ironia das ironias, o Direito Internacional.