As eleições presidenciais na Sérvia
Duas ou três coisas sobre as eleições presidenciais que reconduziram Tadic no cargo.
A polarização é o traço dominante da paisagem política sérvia, muito por força de clivagens produto das guerra fratricidas que assolaram os últimos dias da Jugoslávia, mas também do lastro de pobreza e criminalidade que as reformas de cariz liberal engendraram. Ainda assim, a miragem da União Europeia possibilitou à justa a eleição do "moderado" Boris Tadic. Muitos eleitores acabaram por lhe dar o benefício da dúvida; por causa da União e do espectro do isolamento que a candidatura de Nikolic poderia representar. É legítimo pensar que com um candidato menos ultra, o resultado poderia ter sido outro, bem mais embaraçoso para os eurocratas e as consciências bem pensantes da nossa Europa.
Estas eleições vêm confirmar a força do campo nacionalista, o que não é de hoje. Paradoxalmente, começou a ressurgir das cinzas com o julgamento de Milosevic. A combatividade de Milosevic, a argúcia com que conduziu a sua defesa perante a acusação e os juízes do Tribunal de Haia, animou os nacionalistas sérvios. Foi o partido radical, de Nicolic e cujo líder enfrenta também a justiça de Haia, quem disso beneficiou, em face de um partido socialista desacreditado.
Boris Tadic (um desses homens do nosso tempo, para quem a vida se parece resumir ao livre jogo da oferta e da procura) não está verdadeiramente interessado na sorte dos sérvios do Kosovo, no entanto, não se pode dar ao luxo de ignorar esta questão, que poderá comprometer a sua lua-de-mel com a União Europeia. Porque os sinais que vêm da liderança do Kosovo (que outra coisa seria de esperar dos antigos guerrilheiros do UCK?) não são nada encorajadores para o futuro da minoria sérvia. Atente-se no sítio do ministério do comércio da ainda província da Sérvia. Aí se discorre sobre os monumentos que o território alberga, das heranças ilírio-albanesa (evidentemente uma ficção dos nacionalistas) e da presença bizantina. Mas nada, absolutamente nada, sobre a herança cultural sérvia. Assim se vai reescrevendo a História no Kosovo:
The names of certain Kosovo landmarks have been changed on an online presentation by the province’s Trade Ministry.
Among other changes, Mt. Šara has become "the Albanian Alps", while Orthodox monasteries and churches are portrayed as being a "part of Byzantine culture".
A polarização é o traço dominante da paisagem política sérvia, muito por força de clivagens produto das guerra fratricidas que assolaram os últimos dias da Jugoslávia, mas também do lastro de pobreza e criminalidade que as reformas de cariz liberal engendraram. Ainda assim, a miragem da União Europeia possibilitou à justa a eleição do "moderado" Boris Tadic. Muitos eleitores acabaram por lhe dar o benefício da dúvida; por causa da União e do espectro do isolamento que a candidatura de Nikolic poderia representar. É legítimo pensar que com um candidato menos ultra, o resultado poderia ter sido outro, bem mais embaraçoso para os eurocratas e as consciências bem pensantes da nossa Europa.
Estas eleições vêm confirmar a força do campo nacionalista, o que não é de hoje. Paradoxalmente, começou a ressurgir das cinzas com o julgamento de Milosevic. A combatividade de Milosevic, a argúcia com que conduziu a sua defesa perante a acusação e os juízes do Tribunal de Haia, animou os nacionalistas sérvios. Foi o partido radical, de Nicolic e cujo líder enfrenta também a justiça de Haia, quem disso beneficiou, em face de um partido socialista desacreditado.
Boris Tadic (um desses homens do nosso tempo, para quem a vida se parece resumir ao livre jogo da oferta e da procura) não está verdadeiramente interessado na sorte dos sérvios do Kosovo, no entanto, não se pode dar ao luxo de ignorar esta questão, que poderá comprometer a sua lua-de-mel com a União Europeia. Porque os sinais que vêm da liderança do Kosovo (que outra coisa seria de esperar dos antigos guerrilheiros do UCK?) não são nada encorajadores para o futuro da minoria sérvia. Atente-se no sítio do ministério do comércio da ainda província da Sérvia. Aí se discorre sobre os monumentos que o território alberga, das heranças ilírio-albanesa (evidentemente uma ficção dos nacionalistas) e da presença bizantina. Mas nada, absolutamente nada, sobre a herança cultural sérvia. Assim se vai reescrevendo a História no Kosovo:
The names of certain Kosovo landmarks have been changed on an online presentation by the province’s Trade Ministry.
Among other changes, Mt. Šara has become "the Albanian Alps", while Orthodox monasteries and churches are portrayed as being a "part of Byzantine culture".