Sobre a violência étnica na África do Sul
Este post do Daniel Oliveira, sobre a violência praticada sobre imigrantes, é um bom exemplo de como o moralismo turva o entendimento. Como o caso ocorreu na África do Sul, lá surgem as analogias com o tempo do Apartheid, o julgamento das antigas vítimas depressa transformadas em agressores xenófobos... Parece óbvio, mas não podia ser mais enganador.
Ainda no post em causa, é hilariante a discussão a que se entregaram alguns comentadores, a de saber se o racismo dos negros é "pior" do que o dos brancos, e vice versa. Algo que se assemelha à discussão bizantina do sexo dos anjos.
Podemos invectivar aqueles sul africanos, que sem dúvida cometeram actos atrozes, mas isso a mais das vezes é um exercício espúrio, tão-só para ficarmos de bem com a nossa consciência (de um lado, eles, os xenófobos, e do outro, nós, os civilizados, os tolerantes).
Mais difícil é aceitar que aquilo a que chamamos xenofobia por vezes irrompe violentamente no seio dos agrupamentos humanos, sendo traço sombrio da nossa condição.
Voltando aos trágicos acontecimentos ocorridos na África do Sul, penso que não é difícil vê-los à luz de um contexto em que a disponibilidade de mão-de-obra, normalmente associada à indústria, leva à depreciação dos salários, gerando tensões entre diferentes grupos (aqui falamos, grosso modo, de autóctones versus imigrantes). Não estou a dizer que os indivíduos, no interior destes grupos, tenham todos o mesmo comportamento feito de intolerância para com o Outro, mas que boa parte deles se entrega a tais práticas, sem dúvida.
Enfim, o que vimos na África do Sul não é assim tão diferente do que se passava na Europa industrial do século XIX, em que não raro os industriais recorriam a mão-de-obra imigrante (por exemplo, polaca) para reduzir a capacidade de luta da força de trabalho local. Isto ocorria, assaz , em contextos de greves prolongadas. E fazia alastrar a xenofobia.
Atenção, não estou a dizer que a xenofobia é apenas causada pela depreciação dos salários, num contexto em que indivíduos de vários grupos étnicos concorrem por um emprego, mas apenas que me parece, à luz do que li, ser o factor maior no caso Sul Africano. Por isso, acho espúrias as analogias com o tempo do Apartheid, a não ser no caso de um discurso moralista, de auto-suficiência... Para contentamento dos seus autores.
Ainda no post em causa, é hilariante a discussão a que se entregaram alguns comentadores, a de saber se o racismo dos negros é "pior" do que o dos brancos, e vice versa. Algo que se assemelha à discussão bizantina do sexo dos anjos.
Podemos invectivar aqueles sul africanos, que sem dúvida cometeram actos atrozes, mas isso a mais das vezes é um exercício espúrio, tão-só para ficarmos de bem com a nossa consciência (de um lado, eles, os xenófobos, e do outro, nós, os civilizados, os tolerantes).
Mais difícil é aceitar que aquilo a que chamamos xenofobia por vezes irrompe violentamente no seio dos agrupamentos humanos, sendo traço sombrio da nossa condição.
Voltando aos trágicos acontecimentos ocorridos na África do Sul, penso que não é difícil vê-los à luz de um contexto em que a disponibilidade de mão-de-obra, normalmente associada à indústria, leva à depreciação dos salários, gerando tensões entre diferentes grupos (aqui falamos, grosso modo, de autóctones versus imigrantes). Não estou a dizer que os indivíduos, no interior destes grupos, tenham todos o mesmo comportamento feito de intolerância para com o Outro, mas que boa parte deles se entrega a tais práticas, sem dúvida.
Enfim, o que vimos na África do Sul não é assim tão diferente do que se passava na Europa industrial do século XIX, em que não raro os industriais recorriam a mão-de-obra imigrante (por exemplo, polaca) para reduzir a capacidade de luta da força de trabalho local. Isto ocorria, assaz , em contextos de greves prolongadas. E fazia alastrar a xenofobia.
Atenção, não estou a dizer que a xenofobia é apenas causada pela depreciação dos salários, num contexto em que indivíduos de vários grupos étnicos concorrem por um emprego, mas apenas que me parece, à luz do que li, ser o factor maior no caso Sul Africano. Por isso, acho espúrias as analogias com o tempo do Apartheid, a não ser no caso de um discurso moralista, de auto-suficiência... Para contentamento dos seus autores.