quarta-feira, maio 14, 2008

60 anos de Israel. Que futuro?

















Algumas notas sobre o sionismo, o Estado de Israel e os palestinianos, como não podia deixar de ser.
O sionismo, movimento político da Diáspora rumo à Jerusalém Prometida, combinava as ideologias do nacionalismo e do socialismo.
Nasce no século XIX, o século dos nacionalismos, mas são os horrores do Holocausto e o fim da Segunda Grande Guerra que lhe vão dar o sopro decisivo. À época, era consensual a ideia de um Estado para o povo judeu, vítima de incontáveis sofrimentos.
Bem, é sabido que os judeus, armados de uma poderosa ideologia, venceram, que o processo foi violento, traumático. Gerou um povo apátrida, os árabes da Palestina, não portadores de uma ideologia tão poderosa, quanto o era o movimento sionista desse tempo.
A fundação do Estado de Israel significou opróbrio para muitas e muitas famílias árabes/palestinianas. O problema dos refugiados, que foram expulsos das suas terras, e estas por sua vez a atribuídas a famílias judias, permanece bem vivo na memória colectiva dos palestinianos, em particular, e dos árabes, em geral. E tem constituído um formidável obstáculo a um acordo de paz, à semelhança do que sucede com os colonatos judeus nos territórios ocupados, expressão de um sionismo de extrema-direita.
Muitos traçam um quadro a tons religiosos, exagerando talvez na pintura. Eu penso que a questão de fundo é nacional, mais do que religiosa, não obstante os mitos fundadores do sionismo e o peso crescente do islamismo.
É um problema de território, de terras! Foram líderes seculares, socialistas até, que deram corpo ao moderno nacionalismo palestiniano. Basta lembrar Arafat ou Habash. Hoje, os religiosos estão a prevalecer entre os palestinianos, mas a questão continua a ser a da terra.
O Estado de Israel é um dado da existência, o que não quer dizer que seja irreversível. O seu futuro, não obstante toda as realizações técnicas e científicas, sem esquecer o poderio militar, pode muito bem ser sombrio. Por causa da questão demográfica, que ameaça a natureza judaica do própria Estado de Israel (é a demografia árabe!). E por ser um território com pouca profundidade, rodeado de vizinhos desconfiados, quando não abertamente hostis. Não nos podemos esquecer que os estados árabes que reconhecerem Israel, casos do Egipto e da Jordânia, só o fizeram porque não são democráticos. Caso fosse instaurada a democracia, muito provavelmente assistiríamos à revogação do reconhecimento do Estado de Israel, por vontade dos eleitores jordanos ou egípcios!
Num horizonte distante, um Estado laico binacional poderia ser a solução. Mas à luz do presente, não é mais do que um sonho. Era esse também o sonho de alguns intelectuais palestinianos, como Edward Said.