quarta-feira, julho 23, 2008

Radovan Karadzic
















«Les Serbes peuvent vivre sans pain, mais pas sans État»

No Figaro, uma curta biografia de Radovan Karadzic, o rosto do irredentismo étnico que assolou a República da Bósnia. O homem por detrás do massacre de Srebrenica.
Do berço camponês à cosmopolita Sarajevo, onde se formou em medicina na especialidade de psiquiatria (a paranóia e a depressão eram suas áreas, ao que consta) .
Forjou a sua mundovisão nas lendas e mitos que dão corpo à gesta do povo sérvio, perpetuadas pela tradição oral camponesa. Fez poesia inspirada nelas. Nunca se sentiu parte de Sarajevo, mas amava a sua vida boémia e literata.
Parece ter tomado contacto com a ideologia nacional da pureza étnica através de um colega de profissão, Jovan Raskovic, um fervoroso nacionalista que, nos fim dos anos oitenta, utilizava a televisão para exaltar as virtudes do povo sérvio e lançar invectivas contra muçulmanos (padeciam de frustração anal) e croatas (efeminados pela religião Católica). Imaginamo-lo à imagem desses tele-evangelistas propagadores do ódio ao "outro". A História também é feita de homens assim. Homens cultos, civilizados, mas ao serviço das ideologias do ódio e da intolerância étnica/racial.
Líder implacável dos sérvios bónios, Rodovan Karadzic é indissociável da tragédia que assolou a então República Bósnia da Federação Jugoslava. Mas, convém lembrar, não esteve só. Que nesses anos de guerra civil contou com o apoio esmagador dos sérvios bósnios, muitos dos quais se dedicaram com zelo às operações de purificação étnica, vulgo, deportação, tortura e execução.
Karadzic, sobre quem impendia há vários anos um mandado de captura, foi finalmente detido e tudo leva a crer que não escapará ao braço da justiça internacional. Será julgado por genocídio e crimes contra a Humanidade.
Nas duas Sérvias de hoje, poucos saíram em sua defesa. Karadzic tornou-se descartável, de há muito um grão na engrenagem da adesão da República da Sérvia à União Europeia. Os sérvios entre a indiferença e o esquecimento, longe da reflexão crítica sobre os (trágicos) eventos do passado recente. Nisso não muito diferentes de outros povos.

PS. Evidentemente, há outros responsáveis da tragédia Bósnia, a saber, muçulmanos e croatas, mas este Tribunal Penal Internacional parece reger-se pela obsessão sérvia.