quinta-feira, outubro 09, 2008

Simetrias

No turbilhão da Crise, não deixo de notar uns quantos fiéis do lassez faire, lasser passer, quase diríamos os puros entre os puros, que insistem em atribuir ao Estado a culpa pelos males do presente. Mesmo que os mercados suspirem, nestes tempos de incerteza, pelo Estado. Um estado que nacionaliza prejuízos e privatiza lucros… E eu não deixo de nutrir uma certa simpatia por estes irredutíveis liberais, que me fazem lembrar alguns marxistas mui escolásticos de há duas ou três décadas atrás.
É tudo uma questão de “ismo”, enquanto explicação da Crise que torna o real irreconhecível. Para uns, é a regulação que tolhe a liberdade dos mercados, para outros, é a falta de políticas socialistas… Simetrias, claro está. Mas é também a forma de lidarmos com a realidade, sempre pronta a desafiar as nossas crenças ou convicções. E então fazemos uso de antigas receitas, de rituais de purificação que voltam a insuflar sentido no mundo circundante.
Pois é. Todos nós precisamos de um suporte fantasmático, parafraseando Zizek, para lidar com o real, ou com a mudança que dele é atributo.