quarta-feira, abril 22, 2009

Che - O Argentino/Guerrilha

Hesito em escrever sobre o Che, sinto que não consigo fugir aos lugares-comuns sobre El Comandante. E confesso que não deixei de, a espaços, me emocionar. Foi assim quando o Che encontra Aleida March (belíssima Catalina Sandino Moreno). Ou quando , na sua coluna militar a caminho de Havana, manda um compañero de armas regressar a Santa Clara. Porque este ia num carro que era pertença de um membro do antigo regime; e porque a ética da jovem revolução não rimava com o roubo. Cenas de O Argentino.
Depois, em Guerrilha (Parte II), o Che transformado em Ramon. Ramon à mesa com os filhos, Ramon deitado com a cabeça no colo de Aleida, qual Penélope moderna. Mero fragmento antes da passagem para a privação boliviana que abarca a totalidade do filme.

Projecto cinematográfico de Soderbergh e de Benício del Toro (fabuloso na reencarnação do mítico guerrilheiro latino-americano) filmado em dois tomos que bem poderíamos designar pelas geografias: Cuba e Bolívia. A glória (coisa que o Che, na verdade, não queria, homem que era de se realizar na ajuda desinteressada) e o ocaso.

Che não pretende ser biografia, mas faz justiça ao revolucionário e ao homem. Ao guerreiro animado de um desejo de guerra. Em nome da justiça dos povos. Contra a tirania e a opressão. Ao homem justo e severo e, por vezes, implacável.

O Che que respondia acima de tudo aos estímulos morais, e não aos materiais, está lá. Por isso o filme é eficaz. Soderbergh e Benício del Toro conseguiram levar a bom porto esta espinhosa empresa chamada Che.

Subjectividades... Ou a forma de expressar a minha predilecção pelo Argentino, onde Soderbergh nos oferece uma (excelente) reconstituição com fragmentos do discurso do CHE na 19.ª Assembleia da ONU e dos diálogos informais com senadores americanos, entre os quais McCarty. A segunda parte (Guerrilha) custou-me mais. Por causa do progressivo ocaso do Che nas matas da Bolívia, de uma Bolívia que hoje se reconhece em Che. Mas disso o filme não tem culpa nenhuma.