Um dia de cada vez
Um dia de cada vez e a falta que eu sentia de um filme assim. Do Mike Leigh.
Mal a protagonista, uma mulher cheia de vida e devaneios, entra na livraria e se depara com um livro intitulado “Road to Reality”, exclamando, “Não, não é isso que eu quero!” ,Vi logo, ali, que não podia deixar de gostar deste filme!
Poppy é uma professora primária extremosa, que recusa recalcar aquela parte da infância que está presente em nós. Brinca com essa coisa de “ser adulto”. Resiste.
O filme é cheio de luz e cor, a reflectir o olhar de Poppy. A realidade que a câmara de Leigh nos devolve é a de Poppy. Em tons sombrios, só quando a protagonista, ao escutar estranhos sons, se aproxima de um sem-abrigo.
Zizek dizia que precisamos da fantasia para lidarmos com a realidade. Sem aquela, o peso desta seria insuportável. Não conseguiríamos, pura e simplesmente, viver. Portanto, uma estratégia de sobrevivência. Ou o aprender a ser feliz, o que vai dar no mesmo. É o que faz Poppy. Mas não é para todos.
Um filme de Mike Leigh em registo de comédia e, como não poderia deixar de ser, com um pano de fundo de crítica social. Do instrutor racista que não se reconhece na sociedade do multicultural e tem fobia do mundo, aos pais que, por não querem ou não poderem, se refugiam em casa, deixando os filhos entregues às consolas, quando lá fora o ar é puro e os parques aprazíveis.