segunda-feira, outubro 04, 2010

Economia, Brasil e Racismo

Que o pluralismo, em matéria das coisas da economia, anda pelas ruas da amargura, já o sabíamos. A crise financeira, com o seu cortejo de economistas do costume, muitos dos quais com passagem pela pasta das finanças, apenas veio lançar luz sobre a (velha) narrativa dos portugueses ociosos, improdutivos, vivendo acima das suas possibilidades. Aqueles portugueses que vêem o seu orçamento familiar consumido por entre a prestação da casa e o obsceno custo, mas certamente rico negócio para alguns compinchas dos governos vários, dos livros escolares ou das creches onde têm de deixar os filhos (sem os quais não haverá estado social). E que não sabem se amanhã ainda terão emprego. Para estes, o ajustamento salarial (eufemismo do "economês" para a descida dos salários) em nome da sacrossanta competitividade.
Bem, não era propósito deste modesto texto alongar-se em considerações sobre os economistas chamados pelas nossas televisões, e órgãos de comunicação social cá do burgo, a educar as massas ignaras. Era sim o Brasil, país em franco progresso e com um crescimento de nos fazer inveja. Crescimento para o qual não foi despicienda a política de estímulos económicos empreendida pelo governo, ainda para mais em tempo de crise, receita assaz diferente da nossa.
Também em relação ao Brasil, emerge um discurso nos antípodas do pluralismo, que nos é imposto, principalmente, via televisões por uma corte de comentadores. E que nos dizem eles? Que o Brasil deve o seu progresso às políticas de Fernando Henrique Cardoso, e que o exclusivo mérito de Lula foi não ter desconsertado o que o outro fez. Evidentemente que esta narrativa tem um subtexto de racismo social. Pois no país dos "drs" que é o nosso, o progresso do país irmão nunca poderia ser obra de um antigo operário metalúrgico, visto como semi-analfabeto por parte dessa elite de comentadores. Para além das profundas desigualdades sociais, marca do nosso país, o fosso das mentalidades ainda consegue ser muito maior. Triste sina a nossa.