O Congresso do PC
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Foi um congresso a pensar nos desafios eleitorais que aí vêm, porque internamente o tempo é de bonança, sem desafios de monta à linha protagonizada por Jerónimo de Sousa. Com ele, o partido recuperou votos e câmaras, e prevê-se que cresça ainda mais nos actos eleitorais que se avizinham.
Temos, pois, aquele que, para muitos, é o partido comunista que no hemisfério Ocidental melhor soube resistir à derrocada do socialismo real. A própria Odete fez eco disso, ao comentar prazenteiramente o estado comatoso em que se encontram, por exemplo, os congéneres italiano, espanhol e francês, que ao encetaram processos de renovação se viram reduzidos à quase irrelevância política. Confesso que fiquei chocado com tal postura, muito em particular com a alusão ao partido comunista francês, que irresponsavelmente se teria atolado nos terrenos movediços da governação. Ora, não deixo de lembrar que o partido comunista francês esteve no governo da esquerda plural, liderado pelo socialista Lionel Jospin, que entre outras coisas criou a medida das 35 horas semanais. Será isto pactuar com as políticas de direita? E já que se fala de renovação, será que aqueles partidos estariam mais fortes, se tivessem permanecido à imagem e semelhança do nosso pc, espécie de guardião do templo? Teria o partido comunista português perdido, necessariamente, o seu eleitorado tradicional, caso enveredasse pelos caminhos da renovação política? Sendo o partido comunista português uma formação política com profundas raízes nacionais e com forte influência nas práticas sindicais, diga-se que indissociáveis da normal e sadia conflitualidade das sociedades democráticas, por que razão a cada congresso que passa se cristaliza numa lógica de resistência? O que dizer de um congresso que, a avaliar pelos discursos de Jerónimo de Sousa, parece ter como alvos o Bloco de Esquerda e o deputado Manuel Alegre? Mais até do que Sócrates. Com quem pretende então o pc estabelecer pontes? Ou a alternativa de esquerda é apenas mero simulacro?