segunda-feira, julho 04, 2005

O "toque humano"

A ler, o texto de Rui Ramos no Portugal Diário:
"Há casos, porém, em que a maquilhagem humanizadora levanta protestos. Viu-se isso a propósito de dois filmes estreados em Portugal no último ano: os «Diários de Che Guevara», de Walter Salles, e «A Queda - Hitler e o Fim do Terceiro Reich», de Oliver Hirschbiegel.(...)

Como era possível filmar vilões como se fossem seres humanos normais, um no papel de estudante romântico, e o outro conseguindo momentos de compostura no meio do desastre? (...)

Gostamos de pensar que regimes e movimentos que nos habituámos a condenar se deveram apenas à maldade de alguns monstros. É uma ilusão. Hitler e Guevara não foram simplesmente impelidos por maus sentimentos, mas por projectos e visões políticas. Foram estes projectos que os motivaram e que, em determinadas circunstâncias, juntaram à sua volta muita gente. Assim arranjaram força para ultrapassar os últimos limites da humanidade. Ao "humanizar" Hitler e Guevara, os filmes falsearam a história, não porque os mostrassem sem maldade, mas porque os mostraram sem ideias."