A Esquerda e a Revolta Urbana
O alastrar da violência urbana em França exige uma espécie de ruptura epistemológica à esquerda.
É necessário romper com uma concepção romântica que sente todas revoltas como intrinsecamente boas, porque contra uma ordem social injusta.
O elogio da revolta tem raízes profundas à esquerda, mas convém ter os pés bem assentes na terra e lembrarmo-nos de que até o velho Marx distinguia o proletariado do lumpenproletariat.
No nosso discurso sobre a espiral de cega destruição em curso há muitas vezes um subtexto de absolvição dos actos dos “insurrectos” do banlieue, pelo recurso ao contexto social, uma vez mais a pobreza, os guetos, o racismo de que seriam vítimas os imigrantes e os filhos destes já nascidos em França. Importa afirmar que pobreza não significa necessariamente marginalidade ou violência social.
Bem intencionados, acabamos assim nas malhas do maniqueísmo, o nosso discurso tem dois actores, apenas dois actores: o Estado, rosto da injustiça social, e os jovens em rebelião. Ficam esquecidos os cidadãos que levam uma vida modesta nas cités e são privados dos poucos haveres, um carro incendiado, uma pequena loja pilhada ou fim de um emprego precário por força da destruição de um armazém ou de uma fábrica. Com isso, tornamos a direita na fiel depositária das políticas de segurança.
Ora, urge à esquerda desenvolver uma política de segurança, ganhar neste domínio credibilidade, sem esquecer a necessidade desenvolver políticas sociais e educacionais de combate à exclusão. É na articulação destas duas dimensões que poderemos voltar a ser credíveis aos olhos dos cidadãos desta Europa, cada vez mais multiétnica e assolada por novas bolsas de exclusão.
Combater a delinquência e o crime violento exige não apenas políticas sociais, mas também um enfoque na segurança, o que não significa necessariamente deriva securitária.
Os banlieues estão cada vez mais transformados em espaços de violência, misoginia e fascismo larvar. Impera uma espécie de darwinismo social imposto por gangs juvenis e traficantes. É preciso por isso não esquecer os cidadãos que são vítimas dessa violência endémica, assumir a responsabilidade pela segurança das pessoas e bens, que não pode ficar a cargo nem de máfias nem de religiosos.
Nas cités, o Estado não deve significar só prestações sociais, mas também e acima tudo segurança, combate aos que praticam a violência. Devemos, à esquerda, assumi-lo sem complexos. É a prazo a nossa liberdade que é posta em causa se continuamos a pactuar com as formas de violência e barbárie.
Uma política de esquerda não tem de ser sinónimo de polícia de intervenção no subúrbio nem de oratória inflamada à la Sakorzy, de resultados pífios, como se tem visto. Deve antes assentar numa polícia de proximidade, que ganhe a confiança das pessoas e não signifique apenas o bastão.
É necessário romper com uma concepção romântica que sente todas revoltas como intrinsecamente boas, porque contra uma ordem social injusta.
O elogio da revolta tem raízes profundas à esquerda, mas convém ter os pés bem assentes na terra e lembrarmo-nos de que até o velho Marx distinguia o proletariado do lumpenproletariat.
No nosso discurso sobre a espiral de cega destruição em curso há muitas vezes um subtexto de absolvição dos actos dos “insurrectos” do banlieue, pelo recurso ao contexto social, uma vez mais a pobreza, os guetos, o racismo de que seriam vítimas os imigrantes e os filhos destes já nascidos em França. Importa afirmar que pobreza não significa necessariamente marginalidade ou violência social.
Bem intencionados, acabamos assim nas malhas do maniqueísmo, o nosso discurso tem dois actores, apenas dois actores: o Estado, rosto da injustiça social, e os jovens em rebelião. Ficam esquecidos os cidadãos que levam uma vida modesta nas cités e são privados dos poucos haveres, um carro incendiado, uma pequena loja pilhada ou fim de um emprego precário por força da destruição de um armazém ou de uma fábrica. Com isso, tornamos a direita na fiel depositária das políticas de segurança.
Ora, urge à esquerda desenvolver uma política de segurança, ganhar neste domínio credibilidade, sem esquecer a necessidade desenvolver políticas sociais e educacionais de combate à exclusão. É na articulação destas duas dimensões que poderemos voltar a ser credíveis aos olhos dos cidadãos desta Europa, cada vez mais multiétnica e assolada por novas bolsas de exclusão.
Combater a delinquência e o crime violento exige não apenas políticas sociais, mas também um enfoque na segurança, o que não significa necessariamente deriva securitária.
Os banlieues estão cada vez mais transformados em espaços de violência, misoginia e fascismo larvar. Impera uma espécie de darwinismo social imposto por gangs juvenis e traficantes. É preciso por isso não esquecer os cidadãos que são vítimas dessa violência endémica, assumir a responsabilidade pela segurança das pessoas e bens, que não pode ficar a cargo nem de máfias nem de religiosos.
Nas cités, o Estado não deve significar só prestações sociais, mas também e acima tudo segurança, combate aos que praticam a violência. Devemos, à esquerda, assumi-lo sem complexos. É a prazo a nossa liberdade que é posta em causa se continuamos a pactuar com as formas de violência e barbárie.
Uma política de esquerda não tem de ser sinónimo de polícia de intervenção no subúrbio nem de oratória inflamada à la Sakorzy, de resultados pífios, como se tem visto. Deve antes assentar numa polícia de proximidade, que ganhe a confiança das pessoas e não signifique apenas o bastão.