quarta-feira, novembro 16, 2005

Identidades

Nestes tempos de pulsões identitárias, recorro a Amin Maalouf, à clareza deste excerto da obra As Identidade Assassinas :

“O mundo está coberto de comunidades feridas, que sofrem ainda hoje perseguições ou que ainda guardam a lembrança de sofrimentos antigos; e que sonham conseguir vingança. Não podemos ficar insensíveis ao seu calvário; temos de defender o seu desejo de falar livremente a sua língua, de praticar sem temor a sua religião ou de preservar as suas tradições. Mas da compaixão desliza-se por vezes para a sua complacência. Aos que sofreram na pela a arrogância colonial, o racismo e a xenofobia, perdoamo-lhes os excessos da sua própria arrogância nacionalista, do seu próprio racismo e xenofobia, desinteressando-nos por isso da sorte das suas vítimas, a menos que o sangue tenha jorrado a rodos.
É que nunca se sabe onde acaba a legítima afirmação de identidade e começa o espezinhamento dos direitos dos outros!... o deslizar de um sentido a outro é imperceptível, parece natural e todos nos deixamos alguma vez cair na armadilha. Denunciamos uma injustiça, defendemos os direitos de uma população que sofre e descobrimo-nos, na manhã seguinte, cúmplices de uma matança.”

Seriam inúmeros os exemplos aos quais este texto se poderia aplicar.
Eu digo apenas que devemos combater todo o sentimento de complacência para com os amotinados da pátria das luzes e o olhar redutor sobre os conflitos étnicos, ao contrário do fizemos por exemplo no Kosovo, em que irreflectidamente elegemos lobos e cordeiros.
Acima de tudo, importa não cair numa concepção “tribal” de identidade.