O Mundo
Mundo é um filme sobre o desajustamento na vertigem da modernização chinesa.
Esteticamente muito sedutor, sobretudo na forma como capta os signos do consumo e da modernidade numa paisagem urbana em mutação;
Mundo encerrado num parque temático de Beijing, com as suas reproduções da Torre Eiffel, da Praça de São Marcos e até das Torres Gémeas de Manhatan (“…nós ainda temos as nossas”, diz com orgulho uma das personagens), metáfora de uma China ávida do mundo, depois de um tempo histórico de fechamento.
Gente simples em busca da felicidade, mas sujeita a um pesado quotidiano. Tao (curiosamente a actriz tem o mesmo nome do personagem) procura no amor um ponto de equilíbrio, num mundo em que as principais referências ruíram e em que o individualismo e a anomia tudo parecem tomar. Uma espécie de mal de vivre assola as personagens deste filme. Que são no entanto cativantes.
Traço do cinema de Jia Zhang-Ke é o olhar crítico sobre o processo de modernização da China. Não é por isso do agrado das autoridades chinesas, embora desta vez tenha sido autorizado a filmar (sinal de abertura?). A Plataforma foi, por exemplo, rodado na clandestinidade, com o apoio financeiro da produtora de Takeshi Kitano. Mas talvez mais importante seja a forma de filmar o espaço e a ternura que se pressente no olhar sobre os indivíduos. Ao contrário do seria de supor, há humanismo nos filmes de Jia Zhang-Ke.