quinta-feira, setembro 28, 2006

Liberdade refém das tiranias

O cancelamento, pela Ópera de Berlim, da encenação do Idomeneo é mais um triste exemplo de renúncia aos valores da liberdade, que formam âmago das sociedades ocidentais. Tem-se tornado uma prática cada vez mais comum, basta tão-só lembrar o recente episódio que envolveu o dramaturgo Peter Handke e a Comedie-Francaise.
O mais dramático é ver gente do mundo da cultura, dos directores de óperas e teatros aos criadores, transformada em agente da censura; ou a renunciar voluntariamente à sua vocação. É uma atitude em tudo distinta da dos seus antecessores, que em condições muitos mais adversas, em épocas sombrias, não hesitaram em afrontar tiranias e poderes totaliários assassinos. Estou a lembrar-me, entre outros, de Chaplin ou Fritz Lang, que não hesitaram em pôr a sua arte ao serviço da causa da liberdade. Mas eles eram gente de uma outra fibra; gente que amava mais a liberdade do que vida ou a morte.
Precisamos de uma nova esperança, meditar nestas palavras de Chaplin, quando do filme O Grande Ditador:

To those who can hear me I say, "Do not despair." The misery that is now upon us is but the passing of greed, the bitterness of men who fear the way of human progress. The hate of men will pass and dictators die; and the power they took from the people will return to the people and so long as men die, liberty will never perish.

P.S. Parece que a Ópera de Berlim hesita agora em levar à cena o Idomeneo. Mesmo que assim suceda, os contornos ou as tergiversações deste episódio em nada alteram o teor do post.