Aborto: Mitos do Não
Uma breve, apenas breve nota sobre o artigo de Pedro Picoito, intitulado Talvez, alusivo ao aborto e que hoje foi levado á prensa pelo PÚBLICO.
Para além dos argumentos costumeiros, que bem espremidos se resumem à figura da feminista má (herdeira moderna da fada má), este arauto do “Não” faz uso de meias verdades, ao dizer “que em todos os países que abriram portas à liberalização o número de abortos aumentou exponencialmente”. Ora, em rigor, não é possível sustentar uma afirmação deste teor, visto que o período anterior à “liberalização” era o do aborto clandestino, pela sua natureza um fenómeno difícil de medir em toda a sua extensão (em muitos casos até nem existiam estudos; e entre nós quantos estudos sérios há?). Pelo que tal comparação enferma de desonestidade intelectual.
E a sugestão de que estes países foram submergidos pelo aborto é assaz ridícula. Não há lei universal que nos diga haver uma associação entre “liberalização”, para empregar a expressão do articulista, e níveis elevados da prática do aborto. Por exemplo, no Estado do Dakota do Sul, onde os eleitores chumbaram em referendo uma proposta de lei que visava restringir o aborto, esta prática tinha uma expressão mínima.
Por fim, é interessante verificar que, nos países europeus que levaram à prática a despenalização da interrupção voluntária da gravidez (até às dez ou às doze semanas), esta questão passou a ser da esfera íntima; deixou ser problema político, remetendo movimentos ou grupos, similares aos do espectro do Pedro, à condição de espécies exóticas no paisagem da Polis.
Para além dos argumentos costumeiros, que bem espremidos se resumem à figura da feminista má (herdeira moderna da fada má), este arauto do “Não” faz uso de meias verdades, ao dizer “que em todos os países que abriram portas à liberalização o número de abortos aumentou exponencialmente”. Ora, em rigor, não é possível sustentar uma afirmação deste teor, visto que o período anterior à “liberalização” era o do aborto clandestino, pela sua natureza um fenómeno difícil de medir em toda a sua extensão (em muitos casos até nem existiam estudos; e entre nós quantos estudos sérios há?). Pelo que tal comparação enferma de desonestidade intelectual.
E a sugestão de que estes países foram submergidos pelo aborto é assaz ridícula. Não há lei universal que nos diga haver uma associação entre “liberalização”, para empregar a expressão do articulista, e níveis elevados da prática do aborto. Por exemplo, no Estado do Dakota do Sul, onde os eleitores chumbaram em referendo uma proposta de lei que visava restringir o aborto, esta prática tinha uma expressão mínima.
Por fim, é interessante verificar que, nos países europeus que levaram à prática a despenalização da interrupção voluntária da gravidez (até às dez ou às doze semanas), esta questão passou a ser da esfera íntima; deixou ser problema político, remetendo movimentos ou grupos, similares aos do espectro do Pedro, à condição de espécies exóticas no paisagem da Polis.