O Portugal De...Silva Lopes
Assisti, talvez no único programa verdadeiramente de serviço público da RTP1 (O Portugal D…), a uma interessante entrevista com o prof. Silva Lopes, que confesso ser um dos poucos economistas deste país que me dá prazer ouvir.
A entrevista versou aspectos biográficos, como o tempo de criança numa aldeia perdida no interior, em que todos iam descalços para a escola primária. O Portugal feito de privação (o pão de trigo era coisa rara por aquelas paragens mais a Norte e as gentes faziam um pé-de-meia para acautelar doenças futuras, pois não havia serviço nacional de saúde nem segurança social). Um Portugal que existiu não assim há tanto tempo, mas que depressa caiu no esquecimento, nesta sociedade do espectáculo suspensa do tempo presente.
O ritmo do programa é a antítese das montagens frenéticas que são a praga moderna da televisão que alguns dizem ser a que queremos e a que merecemos. Privilegia o tempo lento, a palavra seguida imagem que reforça o sentido. E sentimos a espessura do tempo.
Retenho, entre outras coisas, aqueles apontamentos sobre os primeiros tempos da revolução (creio que se referia ao PREC), nomeadamente as críticas à política de subida dos salários (em cerca de 40%) e do congelamento dos preços, que fez a ruína de muitas empresas. A sinceridade desarmante de Silva Lopes quando nos revela que esteve no conselho em que essa medidas foram aprovadas e não se pronunciou contra, ainda hoje não sabendo muito bem porquê. Esse foi um grande momento da entrevista. E também provocador quando nos diz que a nacionalização foi a solução encontrada à época para evitar o desaparecimento de muitas empresas, a braços com prejuízos avultados por força do insucesso de que se revestiu o controlo da gestão pelos trabalhadores. No entanto, esse período conturbado seria rapidamente ultrapassado e já em 1976 se vislumbravam os primeiros sinais de recuperação da economia. E O país entrou no caminho da prosperidade, mesmo se pelo meio houve uma recaída, muito por culpa dos erros do governo da Aliança Democrática, que teve como epílogo o FMI (Fundo Monetário Internacional).
À luz desta análise de quem viveu aquele período quente, penso ainda assim que valeu a pena o esforço da subida dos salários, mesmo se à custa de parte do tecido empresarial. No fundo, os trabalhadores aproveitaram um momento conjuntural em que a correlação de forças lhes era favorável para obter ganhos. Foi a política, que o mundo não é só feito de ciência económica. Mas isso não impediu a rápida recuperação (facto que à época espantou o economista Silva Lopes) e o crescimento económico nas décadas subsequentes, bem como um período de prosperidade sem precedentes na história do país. E quanto às empresas, essas, foram privatizadas, algumas das quais regressando à posse das antigos donos. Terá sido assim tão dramático o PREC? Como seriam hoje os níveis salariais dos portugueses, se não tivesse havido o PREC?
A entrevista versou aspectos biográficos, como o tempo de criança numa aldeia perdida no interior, em que todos iam descalços para a escola primária. O Portugal feito de privação (o pão de trigo era coisa rara por aquelas paragens mais a Norte e as gentes faziam um pé-de-meia para acautelar doenças futuras, pois não havia serviço nacional de saúde nem segurança social). Um Portugal que existiu não assim há tanto tempo, mas que depressa caiu no esquecimento, nesta sociedade do espectáculo suspensa do tempo presente.
O ritmo do programa é a antítese das montagens frenéticas que são a praga moderna da televisão que alguns dizem ser a que queremos e a que merecemos. Privilegia o tempo lento, a palavra seguida imagem que reforça o sentido. E sentimos a espessura do tempo.
Retenho, entre outras coisas, aqueles apontamentos sobre os primeiros tempos da revolução (creio que se referia ao PREC), nomeadamente as críticas à política de subida dos salários (em cerca de 40%) e do congelamento dos preços, que fez a ruína de muitas empresas. A sinceridade desarmante de Silva Lopes quando nos revela que esteve no conselho em que essa medidas foram aprovadas e não se pronunciou contra, ainda hoje não sabendo muito bem porquê. Esse foi um grande momento da entrevista. E também provocador quando nos diz que a nacionalização foi a solução encontrada à época para evitar o desaparecimento de muitas empresas, a braços com prejuízos avultados por força do insucesso de que se revestiu o controlo da gestão pelos trabalhadores. No entanto, esse período conturbado seria rapidamente ultrapassado e já em 1976 se vislumbravam os primeiros sinais de recuperação da economia. E O país entrou no caminho da prosperidade, mesmo se pelo meio houve uma recaída, muito por culpa dos erros do governo da Aliança Democrática, que teve como epílogo o FMI (Fundo Monetário Internacional).
À luz desta análise de quem viveu aquele período quente, penso ainda assim que valeu a pena o esforço da subida dos salários, mesmo se à custa de parte do tecido empresarial. No fundo, os trabalhadores aproveitaram um momento conjuntural em que a correlação de forças lhes era favorável para obter ganhos. Foi a política, que o mundo não é só feito de ciência económica. Mas isso não impediu a rápida recuperação (facto que à época espantou o economista Silva Lopes) e o crescimento económico nas décadas subsequentes, bem como um período de prosperidade sem precedentes na história do país. E quanto às empresas, essas, foram privatizadas, algumas das quais regressando à posse das antigos donos. Terá sido assim tão dramático o PREC? Como seriam hoje os níveis salariais dos portugueses, se não tivesse havido o PREC?