quinta-feira, janeiro 18, 2007

Odemira: um concelho longe demais



As infelizes notícias que nos ultimos dias têm colocado Odemira nos telejornais, são bem a mostra de como os recursos do Estado deveriam ser orientados para servirem de protecção aos que mais dificuldades têm em prover os seus cuidados de saúde, por exemplo. Em vez disso, há uma vontade igualitária no SNS e nos seus sistemas de apoio, que a todos é devida protecção e que com ela todos podem contar em todas as alturas.
Uma rede de assistência pública, paga pelos impostos de todos (fornecida por privados ou por particulares) deveria ser um último recurso, um amparo de emergência ou um apoio temporal (o que se aplicaria aos recentes casos de cheias em Odemira). Não deveria ser uma garantia que entre sempre nos planos que cada um faz sobre os riscos que a vida acarreta (para si e para a sua família) e que por isso desmotiva outras precauções (como a poupança aplicada em seguros de saúde ou em planos para a reforma).

Em Odemira estamos a falar do maior concelho do país, onde a distância ao hospital distrital, o de Beja, é de perto de 100 Km e uma hora de caminho. Bem longe dos problemas levantados pelos autarcas do Norte, como o de Barcelos que se queixava na RTP de, dado o fecho da maternidade local, as grávidas teriam de se deslocar 20km por autoestrada até à maternidade mais próxima. Tornou-se figura nacional o Bombeiro Marques, cuja antiguidade nos BVOdemira lhe proporcionou a oportunidade de ajudar ao parto de dezenas de crianças a caminho de Beja.
Se considerarmos os limítrofes do concelho, a distância é ainda superior, por uma rede de estradas condicionadas pelo relevo serrano. Se pensarmos nos habitantes espalhados pelas aldeias e lugares das serras e montes do concelho (longe das planuras doutro Alentejo), estamos a considerar uma população envelhecida e com parcos recursos financeiros. É a esses que a rede de apoio público deve ser destinada. É para essa solidariedade que deviam ir os meus impostos e não para os programas de promoção de "justiça social" (tão populares entre os partidos portugueses) que muitas vezes não são mais que incentivos ao imobilismo e à indolência.
Enquanto não deixarmos para trás o conceito socialista de igualitarismo, de não criar diferenciações no fornecimento destes cuidados públicos, iremos limitarmo-nos a tentar esticar uma manta que a todos não vai tapar. Infelizmente, os mais fracos e desvalidos serão sempre os menos protegidos pelas políticas dos que clamam (mentindo) serem os seus campeões.