Lembram-se de Maquiavel?
Rui Albuquerque, no Portugal Contemporâneo:
Esta é, de resto, a natureza da política: a conquista, o exercício e a manutenção do poder do Estado, ou seja, da soberania política. O poder, e não o «interesse público», é a sua finalidade, e a satisfação dos clientes, que são os eleitores (momento em que o exercício do poder se poderá aproximar mais de uma ideia de serviço público), é meramente instrumental e não o fim em si mesmo da actividade política: os governantes pretendem agradar aos eleitores porque querem os seus votos para se manterem no poder. (...)
Numa palavra, a política não se confunde com qualquer outra actividade humana, menos ainda com a caridade ou a beneficência social.(...)
Também os liberais, todos os liberais e sobretudo os liberais, nunca depositaram grandes ilusões na política e na capacidade dos governantes para promover o «interesse público» e a felicidade alheia. Ao contrário da esquerda, que acredita que a política é capaz de criar um «homem novo» e uma «sociedade igualitária», ao invés da maior parte da direita, que espera pela providência de Deus ou de um homem para manter a «boa ordem» social, o liberalismo conhece bem os homens e a política, e sabe com exactidão o que os primeiros querem da segunda. Por terem essa exacta noção, é que os liberais desconfiam do Estado e dos governantes. E preferem, apesar de tudo, que os homens se entendam de igual para igual, isto é, no mercado, do que se tenham de submeter ao egoísmo da soberania.